Em um ano de ressaca no mercado de investimentos global, com ajustes de liquidez, alta de juros e incertezas macroeconômicas, as startups da América Latina captaram US$ 3,3 bilhões em 748 rodadas de equity ao longo de 2023, de acordo com o mais recente relatório da plataforma Sling Hub, com dados até o dia 10 de dezembro. Os resultados preliminares do ano indicam uma queda de 50% no volume de investimentos captados e de 21% no número de rodadas no comparativo ano a ano.

Um ponto que sempre impacta na queda de volume de investimento de startups é as captações grandes”, afirma João Ventura, fundador e CEO da Sling Hub, em conversa com o Startups. “Cerca de 80% do dinheiro captado ao ano pelas startups latinas vem de poucas rodadas, ou seja, um número pequeno de grandes operações. E essas foram as que mais sofreram nos últimos dois anos.”

Ele explica que, em 2022, a América Latina registrou 29 megarounds (rodadas acima de US$ 100 milhões), número que caiu para sete em 2023. No Brasil, a redução foi de 11 para quatro no mesmo período. “As startups grandes estão sendo as mais afetadas por toda diminuição no mercado. Basicamente, o que ocasionou a queda de volume captado em 2023 foi ter menos rounds grandes”, avalia o executivo.

Vale destacar que dos 29 megarounds de 2022, seis tiveram o SoftBank entre seus investidores. Já em 2023, o conglomerado japonês se manteve um tanto “mansinho”, segurando a mão na hora de assinar os cheques. Dos sete megarounds de 2023, o SoftBank não participou de nenhum. Ainda segundo a Sling Hub, o fundo realizou apenas um investimento na América Latina em 2023, ao liderar a série A da HRTech chilena Rankmi, sem valor divulgado.

Rodadas maiores somem e startups latinas captam 50% menos

‘Ressaca’

O Brasil respondeu por 58% de todo o volume captado pelas startups latinas em 2023. Nossas startups captaram US$ 1,9 bilhão neste ano, distribuídos em 435 rodadas de equity. A participação brasileira nos aportes em toda a região se manteve dentro da média dos últimos anos. Assim, respondeu por 61% do volume captado em 2020, 59% em 2021 e 50% em 2022.

Marcio Zarzur, general partner da DOMO.VC, observa que a redução de investimentos em 2023 não é nenhuma grande novidade. “Este movimento é natural em um cenário de juros mais altos e especialmente considerando a ‘ressaca’ após um período de bonança excessiva. O que nos anima é que a qualidade dos negócios que estão sendo criados é consideravelmente mais alta e os modelos de negócio mais sólidos, já visando break-even desde o início da fundação da companhia”, considera.

Fintech, sem muitas surpresas, segue sendo o segmento de mercado mais aquecido, embora tenha enfrentado uma redução de 45% em investimentos em 2023. Em segundo lugar, o levantamento da Sling Hub aponta para as proptechs, que captaram US$ 380 milhões ao longo do ano. Mas o destaque do ano vai para as biotechs, o único setor entre os quatro maiores em volume de investimentos Latam que apresenta crescimento ano a ano, tanto em rodada de equity quanto no total considerando os investimentos de dívida. As biotechs representaram seis das 24 rodadas acima de US$ 20 milhões na região, sendo três delas no Brasil.

O que esperar de 2024 para as startups latinas?

Segundo Marcio, da DOMO.VC, as perspectivas para a indústria de 2024 são otimistas, principalmente pela tendência de queda de juros nos Estados Unidos – o que melhora o cenário para investimentos alternativos em todo o mundo. … leia mais em Finsiders 27/12/2023