A onda tech virou uma marolinha (e uma dor de cabeça aos investidores)
Em 2021, as empresas de tecnologia estiveram no centro de 132 ofertas públicas iniciais de ações, segundo a consultoria Dealogic. Com esse volume de IPOs, o setor levantou cerca de US$ 86 bilhões, quase o dobro do montante registrado no ano passado.
Se essa conta incluir os nomes do segmento que abriram capital por meio da fusão com Special Purpose Acquisiton Companies (SPACs), o número em questão sobe para 257 companhias, contra as 101 que escolheram esse caminho em 2020.
Esses indicadores escondem, porém, uma realidade bem menos pujante. Das 132 empresas que seguiram a oferta tradicional, 85, quase dois terços delas, têm suas ações cotadas abaixo do preço de seus respectivos IPOs, levando-se em conta o fechamento do pregão da segunda-feira, dia 6 de dezembro.
Leia também demais posts relacionados a Techs no Portal Fusões & Aquisições.
De acordo com a Dealogic, em pesquisa citada pelo site americano The Information, a cotação dos papéis das empresas de tecnologia de capital aberto teve um aumento, em média, de 24% ao mês após seus IPOs realizados no ano. Em 2020, esse índice ficou em 41%.
Outros dados levantados pela consultoria trazem um cenário ainda mais detalhado desse desempenho. Seis meses após as aberturas de capital, essas ações subiram, em média, apenas 11%, enquanto, no ano passado, essa valorização foi de 55%.
A lista de empresas que vêm decepcionando depois de abrirem capital inclui nomes como o aplicativo de encontros Bumble, cujas ações estão sendo negociadas com uma desvalorização de 13% em relação ao seu IPO, realizado em fevereiro, na Nasdaq.
Na época, a empresa fundada por Whitney Wolfe Herd captou US$ 2,2 bilhões e foi avaliada em US$ 7 bilhões. Com o preço do encerramento do pregão desta terça-feira, quando a ação teve alta de 9,71%, a companhia recuperou parte do “prejuízo” e está avaliada em US$ 6,7 bilhões.
Outro nome cujo IPO atraiu todos os holofotes, no fim de julho, e que vem frustrando todas as expectativas é o Robinhood. As ações do aplicativo de investimentos estão sendo negociadas 40% abaixo do preço da sua abertura de capital.
Em contrapartida, há quem esteja desafiando essa onda negativa do setor. A lista inclui nomes como a Rivian, fabricante de caminhões elétricos, que tem seus papéis negociados 50% acima do preço do IPO. Outro exemplo é empresa de software Monday.com, que acumula uma valorização de 86%.
O levantamento ressalta, no entanto, que essas e outras companhias são exceções. Nesse contexto de desempenhos abaixo da média, há muitos exemplos de empresas que estão enfrentando desafios específicos em suas operações.
É o caso da chinesa Didi Chuxing, que foi avaliada em US$ 67 bilhões em seu IPO na Bolsa de Nova York, no fim de junho, e vale atualmente US$ 34,7 bilhões. A empresa, dona do aplicativo 99 no Brasil, tornou-se um dos principais alvos na ofensiva das autoridades da China contra o setor. E vem sendo pressionada a deslistar suas ações em Wall Street para negociá-las na Bolsa de Hong Kong.
De forma geral, no entanto, há outros componentes que ajudam a explicar esse panorama negativo relacionado ao setor. Entre eles, as expectativas de taxas de juros mais altas e o prolongamento da pandemia.
“Quando os mercados se tornam mais voláteis, como tem acontecido ultimamente, os investidores institucionais tendem a vender suas posições menores para se concentrarem nos bastiões dos seus portfólios”, afirmou, Lise Buyer, fundadora da consultoria Class V Group, ao The Information.
Ela acrescentou: “Com frequência, isso significa vender as novas emissões compradas recentemente em favor de ativos vencedores de longo prazo, mais experientes e de menor risco.”
Para Paul Abramizadeh, diretor de mercado de capitais do Citigrou, outro ingrediente nesse caldeirão é justamente o grande número de ofertas realizadas no período. Ele também destacou que, na maior parte do ano, o desempenho dos IPOs foi forte, e que boa parte só perdeu força nos últimos dois meses.
Os dados mostram ainda que esse desempenho pós-IPO registrado até aqui está mais próximo dos indicadores registrado em 2019. Naquele ano, o aumento médio no preço das ações do setor pós-IPO foi de 28% depois de um mês das ofertas. Leia mais em NeoFeed 08/12/2021