Para tentar conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem aumentando sucessivamente a taxa básica de juros (Selic). Com isso, as empresas de tecnologia listadas na Bolsa estão vendo os aportes minguarem e seus ativos despencarem. Em janeiro de 2022, para se ter ideia, a desvalorização chegou a 10%. Nesse contexto, os papéis que até o ano passado eram certeza de rentabilidade se tornaram dúvida e, em alguns casos, até desaconselhados. Convidamos Rob Correa, analista de investimentos e autor do livro “Guia de Sucesso do Investidor de Longo Prazo” para falar sobre o tema e apontar as perspectivas de curto e médio prazo, .

1. No período de pandemia, um dos setores que mais se valorizaram foi o de tecnologia. O que puxou os ativos dessas empresas para cima?

O que vimos durante a pandemia foi uma valorização nunca antes protagonizada pelas empresas de tecnologia, e isso se deve a uma combinação de fatores além dos juros, no caso brasileiro, terem se mantido em um patamar relativamente estável e baixo no período, chegando a 2% em seu ponto mais crítico. Esse contexto foi favorável às empresas recorrerem à contração de crédito.

O outro motivo se relaciona a uma demanda exponencial pelas funcionalidades oferecidas por essas companhias, aumentando sua receita e seu nível de exposição aos mercados. Um exemplo é o Zoom [serviço de conferência remota], que teve um crescimento de receita de quase 400% no ápice da crise sanitária, com as suas ações valorizando em proporções galopantes.

Leia também demais posts relacionados a TI no Portal Fusões & Aquisições.

2. Por que a contratação de crédito é fundamental para a sobrevivência das techs?

Essa dependência ocorre por conta do modelo de negócio das companhias, que têm a essência de sua operação muito ligada ao crédito para financiar seu funcionamento. Como elas possuem um balanço altamente alavancado em razão da necessidade de Capex (despesas de investimento para manter o negócio competitivo), essas empresas, em termos mundiais, possuem uma forte correlação com a taxa básica de juros das economias às quais pertencem.

3. Qual a consequência da elevação da Selic para os ativos dessas empresas?

Com uma Selic já precificada a 12,75%, as ações do setor enfrentam dias difíceis. Para se ter ideia, só em janeiro elas sofreram uma queda de 10%, que se acentua a cada pregão. Nesse contexto, o risco a ser pago pelo investidor pessoa física é muito caro. Como consequência, os investidores partem para a renda fixa ou para setores pagadores de dividendos, como o financeiro, empurrando as empresas tech para um poço de desvalorização frente ao mercado.

4. Na sua visão, esse processo de desvalorização vai se acentuar nos próximos meses? Por quê?

Acredito que sim, e um agravante para a situação é que, com a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a equipe foi surpreendida pela alta do IPCA fora da projeção, o mercado tende a precificar uma taxa de juros acima de 13% nos próximos meses, elevando a desvalorização dos papéis tech.

5. É possível afirmar que o nível de risco dos papéis das empresas Tech aumentou? Como funciona essa dinâmica?

A meu ver, por razões competitivas e econômicas, as ações do segmento aqui no Brasil são uma opção com um risco muito elevado e, por conta disso, devem compor uma pequena parte da carteira do investidor, que é a relacionada aos ativos de risco. Na minha visão, 5% é o máximo de comprometimento para reduzir o potencial de comprometimento do portfólio como um todo em contextos iguais aos que vivemos… saiba mais em G1 19/05/2022