Captações de empresas recuam em ano marcado por incertezas
O volume captado por empresas brasileiras no mercado de capitais doméstico recuou 5,5% neste ano, até o fim de setembro, para R$ 402 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O número reflete uma forte queda nas emissões de renda variável, enquanto o segmento de renda fixa avançou, com destaque para as operações de debêntures.
As emissões de renda fixa somaram R$ 331 bilhões nos primeiros nove meses do ano, volume 25,6% maior que no mesmo período de 2021. O destaque ficou com as debêntures. As captações com esse título de dívida atingiram R$ 205 bilhões, alta anual de 25,6%, um recorde para os nove primeiros meses do ano.
Ao todo, foram 351 emissões de debêntures entre janeiro e setembro. Dessas, 75 superaram o volume de R$ 1 bilhão. O prazo médio das operações foi de 6,1 anos e 82% das ofertas foram indexadas por DI + spread. O setor de energia elétrica liderou as transações, com R$ 39 bilhões. Além disso, 41,4% dos recursos captados foram destinados ao aumento de de capital de giro das empresas.
No caso da renda variável, houve uma forte retração das operações. As captações somaram R$ 52 bilhões no período, recuo de 57,8% na comparação anual. Os instrumentos híbridos somaram R$ 18 bilhões, queda de 51,7% na mesma base de comparação.
Do total levantado em ofertas de ações, quase tudo (R$ 51,9 bilhões) se refere a operações subsequentes (“follow-ons”), com grande concentração na capitalização da Eletrobras. Os dados mostram ainda que 92,7% do volume foi de ofertas primárias.
O cenário para a renda variável melhorou um pouco nos últimos meses, mas não é esperada uma retomada das ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no curto prazo, avalia José Eduardo Laloni, vice-presidente Anbima. “Vamos passar por um momento provavelmente em 2023 ainda de aperto monetário tanto no Brasil quanto lá fora. Isso não é muito favorável à bolsa subindo”, diz o executivo.
Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira para comentar o balanço do mercado de capitais do terceiro trimestre, Laloni observou que a retomada dos IPOs depende de fatores como o nível da bolsa, o cenário macroeconômico brasileiro e o ambiente externo.
O executivo acrescentou que “na hora em que as perspectivas forem na direção correta”, o mercado brasileiro “estará preparadíssimo para absorver novas operações” e atrair novos setores.
Laloni destacou que, no começo do ano, havia muitas dúvidas sobre como o mercado de capitais se comportaria frente ao cenário de alta dos juros e incerteza eleitoral. De acordo com ele, o ambiente externo ficou ainda mais desafiador no período, mas, apesar disso, o volume de captação foi “bastante bom”… leia mais em Valor Econômico 13/10/2022