Em janeiro de 2018, a 99 fez história ao se tornar a primeira startup brasileira a alcançar o status de unicórnio. Naquele ano, a DiDi Chuxing, empresa chinesa dona da maior plataforma móvel de transporte do mundo, comprou a brasileira por US$ 300 milhões (R$ 960 milhões), elevando o valor de mercado da 99 para US$ 1 bilhão.

“Naquela época, muita gente achava que jamais teríamos um unicórnio no Brasil. A gente nem sabia se isso era possível de verdade”, disse Paulo Veras, um dos fundadores da startup, em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS publicada em novembro de 2021.

A empresa, que nasceu como um aplicativo de táxi, inaugurou a boa fase do mercado de startups brasileiro, embora mais recentemente — a partir de meados de 2022 –, o ecossistema de inovação como um todo tenha passado pelo seu “inverno”. Em razão do cenário macroeconômico de juros altos, entre outros fatores, o dinheiro ficou mais escasso e os investidores, mais avessos ao risco.

Hoje, o Brasil tem 23 unicórnios, entre os quais Nubank, QuintoAndar, iFood, Ebanx e outros. Confira a história do primeiro deles.

Unicórnios brasileiros: como a 99 se tornou a primeira startup do país a alcançar a marca de US$ 1 bilhão

O início da 99

Fundada em 2012 por Ariel Lambrecht, Renato Freitas e Paulo Veras, a 99 nasceu como um aplicativo de táxi. Conforme relato de Veras, à época, “era muito difícil andar de táxi em São Paulo. Se quisesse agendar, você ligava lá na cooperativa e demorava meia hora para chegar. Então, o apelo óbvio é que o mercado era imenso, tinha muito dinheiro por ali, a gente estimava em R$ 20 bilhões, R$ 25 bilhões por ano”.

Com a chegada ao país de aplicativos de carona compartilhada, a 99 lançou a categoria Pop, serviço focado para concorrer com os rivais — principalmente a Uber, que se popularizou entre 2014 e 2016 no Brasil. A entrada da concorrente foi um baque para a 99. Player global, a Uber tinha US$ 10 bilhões em caixa e 3 mil pessoas na área de tecnologia. “Na época, a gente tinha 15 pessoas. Em 2016, nosso marketshare praticamente evaporou”, relatou Paulo Veras.

Além da modalidade Pop e Táxi, hoje a empresa também oferece outras categorias: 99Plus (melhores carros), 99Táxi Top (táxis de luxo), Táxi comum (o preço é calculado no taxímetro, e não previamente estabelecido quando o usuário pede pelo carro), 99Entrega (envio de pacotes via automóvel) e 99Entrega Moto (entregas rápidas via motocicleta). O nome passou de 99 Táxi para 99 App.

Aportes

  • O primeiro aporte, de US$ 3 milhões, veio em uma rodada Seed em junho de 2013, seguido de uma outra rodada Seed também de US$ 3 milhões, em julho do mesmo ano, conforme dados da plataforma Crunchbase.
  • Em fevereiro de 2015, a 99 levantou US$ 15 milhões em uma rodada série A liderada por Tiger Global Management.
  • Em agosto de 2015, recebeu US$ 25 milhões na série B, também liderada por Tiger Global Management.
  • Em janeiro de 2017, arrecadou US$ 100 milhões em rodada série C, liderada pela DiDi. Este foi o primeiro investimento do grupo chinês na 99, que mais tarde viria a comprá-la, em 2018.
  • Em maio de 2017, foi a vez de outra rodada série C, dessa vez liderada pelo SoftBank Vision Fund, fundo de investimentos especializado em negócios tecnológicos do SoftBank. Foi a primeira vez que o fundo investiu em uma startup da América Latina. O valor total do aporte foi de US$ 100 milhões.
  • Em janeiro de 2018, a 99 foi comprada pela Didi por US$ 300 milhões (R$ 960 milhões).

Venda à Didi e status de unicórnio

No dia 2 de janeiro de 2018, veio a notícia: a chinesa DiDi Chuxing havia comprado a empresa de transporte urbano 99. Embora o valor da transação não tenha sido revelado, a estimativa é de que tenham sido US$ 300 milhões — elevando, efetivamente, o valor da empresa para US$ 1 bilhão.

A venda para a gigante chinesa também foi uma tentativa de solucionar os problemas financeiros que a 99 vinha enfrentando. “Mesmo com a empresa quase quebrando, focamos 100% em soluções”, disse Veras. Uma dessas soluções era buscar investidores. “[A decisão de vender] Não foi fácil, mas foi superconsciente. Hoje vejo que foi o melhor caminho”, acrescenta o executivo.

A 99 hoje opera como subsidiária da DiDi Chuxing, que estreou na bolsa de Nova York em 2021 com valor de mercado de aproximadamente US$ 67 bilhões. Em maio de 2022, a gigante global decidiu retirar suas ações da bolsa norte-americano. Hoje, seu valor de mercado está estimado em US$ 14 bilhões, segundo informações da Bloomberg.

A 99 tem 600 mil motoristas e 18 milhões de passageiros no Brasil, segundo dados da empresa. Em 2020, atingiu a marca de 1 bilhão de corridas. Em 2022, demitiu cerca de 100 pessoas no Brasil, reflexo do cenário adverso que as startups passaram em razão da crise global macroeconômica pós-pandemia de covid-19, agravada pela guerra na Ucrânia.

Entrada e saída do delivery

Em dezembro de 2019, a empresa estreou o 99Food no Brasil – e de forma discreta, apenas em Belo Horizonte. À época, já estavam em operação concorrentes como iFood, Rappi e Uber Eats (que encerrou as operações no Brasil no início de 2022). Tendo por trás uma gigante da mobilidade, já que a DiDi também controla apps de entrega de comida na China, a aposta da companhia era crescer a operação a longo prazo e de forma rentável, primeiro em cidades mineiras próximas, como Poços de Caldas, Itabira, Divinópolis e Varginha, e só então expandir para outras capitais.

Os planos não deram certo. Em março deste ano, a 99 anunciou o encerramento das atividades de seu aplicativo de entrega de comidas, que ficaram ativas até abril. Embora a empresa não tenha citado a concorrência, o encerramento do app veio na esteira de outros serviços de delivery no Brasil que tentaram sobreviver em meio à dominância de iFood e Rappi. A Uber também havia decidido encerrar a operação da Uber Eats, alegando um processo de reestruturação da empresa, um ano antes…. leia mais em Época Negócios 31/10/2023