A compra de uma corretora de seguros francesa pela KKR & Co. indica um poder cada vez menor da ostensiva máquina de financiamento alavancado de Wall Street.

A empresa de aquisição concordou em financiar sozinha o preço total de 2,3 bilhões de euros (US$ 2,4 bilhões) pago pelo April Group, de acordo com pessoas a par do assunto.

Poucos bancos estão em posição de conceder empréstimos multibilionários para aquisições atualmente, uma vez que ainda estão sobrecarregados com mais de US$ 40 bilhões em dívidas indesejadas relacionadas a essas transações em seus balanços.

Esse tipo de compra em dinheiro é quase inédito em tempos normais, mas, de repente, começa a se tornar comum no mercado atual. A aquisição do April Group marca pelo menos o quinto acordo desse tipo nos últimos meses. Isso pode ser apenas o começo.

Compras da KKR sinalizam menor oferta

Empréstimos agora estão mais caros e mais difíceis de obter, uma consequência de juros crescentes, que também aumentaram o número de negócios pendentes e interromperam abruptamente mais de uma década de dinheiro fácil, virando de cabeça para baixo o mundo das aquisições financiadas por dívidas.

É um fator que alguns bancos tenham se afastado de acordos de private equity, não totalmente, mas fazendo menos”, disse Hilary Wiek, analista-chefe de estratégia de fundos da PitchBook.

A KKR planeja colocar o financiamento da dívida em um estágio posterior, quando puder obter condições mais atraentes, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas. Ainda assim, marca uma grande mudança para um mercado há décadas viciado em alavancagem.

A própria KKR reconheceu que está cada vez mais difícil financiar novos negócio.

“Você pode se apoiar um pouco mais no mercado de crédito privado nesse ambiente, talvez algumas estruturas de capital portáteis. Mas estamos encontrando maneiras de fechar negócios”, disse o codiretor-presidente da empresa, Scott Nuttall, durante teleconferência de resultados em 1º de novembro.

Um representante da KKR não quis comentar.

Fundos de crédito privado com muito capital, há muito tempo vistos como os salvadores do mercado de financiamento de aquisições alavancadas, conseguiram preencher parte da lacuna deixada pelos bancos.

A Blackstone, por exemplo, recorreu a credores privados para ajudar a financiar a compra da Emerson Electric no início deste ano em meio ao menor apetite dos bancos. Várias instituições que haviam conversado sobre financiar o acordo da Emerson se ofereceram para participar apenas se pudessem subscrever a dívida em cerca de 85 centavos de dólar, uma oferta que a Blackstone rejeitou de cara, segundo apurado anteriormente pela Bloomberg. Outros, mais construtivos, estavam dispostos a subscrever apenas uma pequena parte da transação… leia mais em Valor Econômico 01/12/2022