No início deste mês, a Lavoro, controlada pelo fundo Pátria Investimentos, fechou a compra, por valor não revelado, da Produttiva Agronegócios, uma distribuidora de insumos agrícolas com lojas em Paracatu e em Guarda-Mor(MG). O negócio, uma das mais de 40 operações de fusão e aquisição do segmento no país registradas nos últimos cinco anos, é também ilustrativo sobre o atual estágio do movimento de consolidação desse mercado no Brasil: os alvos de aquisição são empresas cada vez menores.

As revendedoras de insumos agrícolas movimentam cerca de R$ 100 bilhões ao ano e fazem parte de um mercado notoriamente pulverizado no país. A consolidação começou em 2016, a partir da criação da Lavoro e da Agrogalaxy, também controlada por um fundo, o Aqua Capital. Elas começaram com as aquisições da colombiana Gral e da Rural Brasil, respectivamente, e, desde então, o movimento não parou. Ao todo, 15 diferentes empresas participaram das 47 operações de fusão e aquisição estando na ponta compradora.

Além da Lavoro, também as multinacionais Nutrien, de fertilizantes, e Syngenta, de agrotóxicos e sementes, anunciaram aquisições neste mês. Nos três casos, elas fecharam negócio com redes que têm lojas em poucas cidades de uma mesma região, um contraste com o perfil das compras registradas há cinco anos.

Imagem Grupo Lavoro

Trata-se de uma terceira onda no movimento de consolidação, afirma Camila Guimarães, líder no Brasil da consultoria Kynetec, especializada no mercado de insumos. “Em 2016 e 2017, vimos a entrada de fundos de private equity nas aquisições. Naquele momento, ocorreram grandes compras, de empresas com faturamento anual de mais de R$ 400 milhões. Entre 2018 e 2019 houve uma segunda grande onda, com a captura de revendas com faturamento mais abaixo, de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões. Recentemente, observamos uma terceira onda, com mais participantes e aquisições de distribuidoras de perfil mais regionalizado, com faturamento entre R$ 100 milhões a R$ 150 milhões”, diz.

Os novos alvos prioritários das compradoras são, em geral, empresas com gestão familiar e força de vendas com muita identificação com os agricultores da região em que atuam. Elas formam um universo de mais de 5.300 distribuidoras no país.

Mesmo que a consolidação já conte cinco anos e tenha entrado agora em sua terceira onda, o segmento ainda é altamente pulverizado no Brasil – nenhuma das líderes (Lavoro, Nutrien e Agrogalaxy) tem participação de mercado superior a 5%.

Desde o início de sua operação, a Lavoro já fechou 18 aquisições no Brasil e em outros países da América do Sul. O faturamento da companhia na última safra foi de R$ 6 bilhões, com uma base de 44 mil clientes e 135 lojas pelo país.

“Esse é um setor que vem crescendo há muito tempo, e nós entendemos que ele não vai parar de crescer. O produtor está cada vez mais capitalizado e querendo investir em mais produtividade. Então, nossa expansão ocorre de duas formas: com o crescimento orgânico das nossas unidades e também por meio de aquisições de empresas locais que façam sentido para nossa estratégia”, disse ao Valor o CEO da Lavoro, Marcelo Abud.

Em linhas gerais, no Brasil, a venda de insumos agrícolas é feita pelos distribuidores (responsáveis por metade do mercado), pelas cooperativas ou diretamente pela indústria – embora promissor, o comércio eletrônico ainda tem pouca penetração. Entre as empresas que lideram o processo de consolidação, há a percepção de que as varejistas regionais, de menor porte, oferecem uma grande oportunidade de mercado por já terem uma base de clientes e porque elas conhecem as particularidades do território em que atuam.

A canadense Nutrien chegou ao Brasil em 2019 com a ambição de se tornar a maior distribuidora de insumos do país em até cinco anos. Sua estratégia de expansão inclui crescimento orgânico de sua rede e também compras de outras empresas. Nos últimos 18 meses, foram três negócios.

A aquisição mais recente foi a da Terra Nova, que tem nove lojas em Minas Gerais e fatura cerca de R$ 250 milhões ao ano – a conclusão do negócio depende de aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O Valor apurou que a canadense deve fechar nova compra em algumas semanas.
“As empresas maiores têm a oportunidade de assumir uma distribuidora quando ela passa por um problema de sucessão ou precisa de mais recursos para ganhar escala. Essas são as oportunidades, e nós queremos estar em todas as regiões onde a agricultura é relevante”, afirma Carlos Brito, diretor de varejo da Nutrien no Brasil.

Como a consolidação terá uma longa jornada pela frente, o movimento tem algumas incertezas. Uma delas é qual caminho trilharão as empresas controladas por fundos. “Os fundos não pensam só no investimento, mas na saída dele”, resume Luis Otávio da Fonseca, líder de agronegócios da consultoria Deloitte. Há dúvidas sobre qual a “tese de saída” – se por fusões, compra de uma grande empresa por outra ou oferta de ações na bolsa. A Agrogalaxy, que tem 100 lojas no país, abriu seu capital na B3 nesta semana, mas a emissão não incluiu uma oferta secundária, na qual os acionistas vendem seus papéis. Os R$ 350 milhões que a empresa levantou são para o caixa – de olho em mais aquisições.  Fonte: Valor econômico .. Leia mais em ideaonline 30/07/2021