Várias fabricantes locais tiveram de se associar a grupos estrangeiros entre 2015 e 2018, quando o volume de vendas de cimento teve retração de 27%

Após uma década de bonança, de 2005 a 2014, a indústria de cimento no país enfrentou uma profunda depressão de demanda que durou até 2018, com retração acumulada de 27% no volume de vendas de cimento.

No período dourado, que pegou os governos Lula e Dilma Rousseff até 2014, o consumo de cimento no país quase dobrou – saiu de 37 milhões de toneladas para 72 milhões. Dezenas de novas fábricas foram instaladas no país e novos entrantes chegaram ao setor, entre eles CSN, Elizabeth, Brennand e Apodi. A capacidade instalada anual de produção foi a 100 milhões de toneladas.

Mas a crise econômica brasileira a partir de 2015, que levou o setor a operar com 47% de ociosidade e a uma disputa de preços entre as fabricantes, machucou muitos e deixou outros combalidos. Inúmeros fornos e fábricas foram paralisados e desativados.

Para sobreviverem, muitos grupos buscaram sócios, principalmente estrangeiros. A primeira foi a cearense Apodi, do grupo cearense Dias Branco, com duas fábricas, que vendeu metade do capital ao grupo grego Titan.

Em 2018, dois outros fabricantes seguiram o mesmo caminho: a Brennand, que havia inaugurado uma fábrica no Nordeste no início da crise, e a Ciplan, do Distrito Federal. A Brennand se associou com a italiana Buzzi Unicem, vendendo metade do capital por R$ 700 milhões. Já a família dona da Ciplan passou o controle (65%) para a francesa Vicat por R$ 1,29 bilhão.

Em função da crise do setor, em 2019 a irlandesa CRH, que havia adquirido ativos de Lafarge e Holcim, colocou suas operações no Brasil à venda. O negócio foi consumado em novembro de 2020, adquirido pela Buzzi/Brennand, com suporte financeiro (US$ 218 milhões) da cimenteira italiana.

Outra fabricante que não resistiu à crise foi a Elizabeth Cimentos, da família Crispin, dona da fabricante cerâmica Elizabeth. Endividada em mais de R$ 1 bilhão, em agosto do ano passado acabou incorporada pelo fundo Farallon Capital, que era credor de dívida dos controladores.

A crise exigiu reforço da estrutura de capital até das grandes cimenteiras. A Votorantim S.A., no início de 2019, fez um aporte da ordem de R$ 3 bilhões na Votorantim Cimentos, que além do Brasil está nos EUA, Europa e África.A InterCement, vice-líder do setor no mercado brasileiro, controlada pela Mover Participações (ex-grupo Camargo Corrêa), em junho do ano passado conseguiu montar uma estrutura (emissão de debêntures) de alongamento da sua pesada dívida. A situação financeira da empresa continuava difícil mesmo após a venda de 49% da controlada argentina Loma Negra na Bolsa de Nova York, em 2017, e ativos em Portugal (2019) e Paraguai (2020).

Por problemas de endividamento para expansão da capacidade em 2012, no início deste ano a Tupi, controlada por um grupo familiar do Rio de janeiro, entrou com pedido de recuperação judicial. A dívida da cimenteira supera R$ 3,6 bilhões e a empresa está propondo pagar os credores em 20 anos, depois de corte em parte do principal do passivo.

Outro grupo que entrou em crise nesse período é o João Santos, de Pernambuco. Foi o único que não fez expansão da capacidade ne, montou fábricas novas no boom de consumo. Das 11 unidades, apenas três estão em operação. Anteontem foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga fraude e sonegação fiscal de R$ 8,6 bilhões.

Segundo informações de pessoas do setor, das agora 23 cimenteiras, outras também se encontram em dificuldades financeiras. Fonte: Valor Leia mais em consultoriatributaria 07/05/2021