Pelo segundo ano consecutivo, a Condere, firma especializada em M&A, rodou uma pesquisa com mais de 100 gestoras de fundos de participação sobre as oportunidades e desafios que veem para o ano corrente. Depois de um período mais morno para os fundos – o número de transações caiu 5%, segundo a Anbima -, o private equity parece mais animado com as perspectivas de investimentos.

No ano passado, 37% dos respondentes previam aumentar investimentos, percentual que subiu para 64% neste ano. A projeção de desinvestimentos também saltou de 42% para 76%. “Há uma relação entre esses números, já que os fundos estão vendo que há janela de saída e isso acontece num cenário de melhora de apetite de investidores, tanto outros fundos ququanto estratégicos ou bolsa”, avalia Paulo Cury, sócio-fundador da Condere.

Os fundos esperam menor variação no valuation das empresas. No ano passado, 74% viam queda de preços, ante 23% agora, segundo o “Data Condere”. Investidores estrangeiros, que tiveram papel relevante no volume de M&A no ano passado, continuam bastante ativos, mas os fundos locais de private equity voltaram a se movimentar, avalia Cury.

A Condere tem um exemplo claro disso: no ano passado, nenhuma das transações assessoradas pela casa envolveu private equity na ponta compradora, substituídos principalmente por estratégicos internacionais. Uma dessas transações foi a venda de 49,9% da Siatti, companhia de defesa de São José dos Campos, para o grupo árabe Edge. “Já neste ano, temos tido interações com private equity em diferentes projetos”, diz o executivo.

Com os cortes da taxa de juros, esse item reduziu importância entre os pontos de atenção dos fundos, assim como consumo, mas câmbio teve um aumento relevante. O fato de ser uma discussão mais premente e dado o patamar mais alto, em média, nos últimos anos, é uma das explicações, avalia o sócio – tanto para assinar o cheque quanto para avaliar os passivos das empresas.

Mas outro aspecto que pode ser considerado neste quesito é o patamar de câmbio da safra de fundos anterior, quando o real estava mais valorizado. Isso significa que, para fechar uma transação hoje, o patamar de retorno em dólar do negócio precisa ser mais alto para compensar que não deve haver ganho cambial. “Mas acredito fortemente que, de forma geral, o M&A é movido muito mais pela micro do que pela macroeconomia porque é uma perspectiva de longo prazo”, diz Cury.

Além de tecnologia e saúda, agro desponta entre os setores de maior interesse dos investidores institucionais. A Condere, inclusive, criou uma joint venture com Ecoagro neste ano para ter uma vertical dedicada ao M&A no setor. Até o Softbank, que não tinha olhado para esse mercado, começou a escolher suas agritechs. Com as emissões de CRAs, o acesso ao mercado de dívida ficou mais fácil para as companhias nos últimos anos – deixando o equity para segunda etapa.

“Incluímos uma pergunta nova sobre o que é deal breaker para os fundos, o que era uma curiosidade nossa. Informalidade e baixo crescimento são os pontos mais importantes. Governança, por ser justamente um dos aspectos que o private equity tende a agregar mais, tem menor fatia”, diz… leia mais em Pipeline 05/04/2024