O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem aumentando os desinvestimentos em renda variável que somam, desde 2016, R$ 35,2 bilhões. De janeiro a junho, o número alcança R$ 14,1 bilhões, incluindo vendas em bolsa de ações de Petrobras e Vale.

No período, porém, as cifras foram alavancadas pela venda da participação acionária na Fibria para a Suzano, que injetou R$ 8 bilhões no caixa do banco. Em 2018, as vendas do sistema BNDES, incluindo a subsidiária BNDESPar, tinham sido de R$ 11,6 bilhões, acima dos R$ 7,6 bilhões de 2017.

A carteira de renda variável do banco inclui ações e cotas de fundos. Os números de desinvestimento mostram que o banco apressou, nos últimos três anos, as vendas de ações, sobretudo em bolsa, método preferido pela área técnica. Mesmo assim, Gustavo Montezano assumiu o BNDES, em julho, tendo como uma de suas metas “acelerar” a venda de participações acionárias, estratégia na qual tem enfrentado dificuldades.

Um executivo do banco disse que o BNDES pode vender de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em participações acionárias por ano “sem grandes esforços”, em bolsa, e sem pressionar os preços das ações.

No momento, porém, a percepção interna no BNDES é de que mesmo as vendas em “mesa” ficarão virtualmente paralisadas depois da confusão envolvendo a saída de André Laloni da área de mercado de capitais do banco este mês. Laloni se envolveu em disputa com parte da área técnica e jurídica da BNDESPar sobre a forma de vender ações do Banco do Brasil pertencentes à União. Neste caso, o banco de fomento atua como gestor do Programa Nacional de Desestatização (PND), o que envolve burocracia ainda maior do que vender ações da própria carteira do BNDES.

Desde o começo do governo, a BNDESPar tem encontrado dificuldades para operar de forma mais célere. Em junho, ainda na gestão de Joaquim Levy, Marcos Pinto, diretor da área de mercado de capitais, renunciou ao cargo depois de ser criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro, o que levou à saída do próprio Levy. Agora ocorreu o episódio Laloni, desligado do BNDES na semana passada depois de pedir licença do banco. As mudanças de comando na BNDESPar, as alterações na estrutura de funcionamento da área, com a fusão de duas superintendências, e as mexidas nas equipes – boa parte das pessoas foi transferida para a diretoria de privatizações, dirigida por Leonardo Cabral – tendem a ter o efeito contrário do que o governo deseja, que é justamente acelerar a venda de ações.

Executivos do BNDES consideram que Laloni não teve “sensibilidade” para angariar o apoio da equipe técnica do banco, que avaliou não dispor das condições básicas da operação para ir em frente em curto espaço de tempo. Fontes lembraram que, em julho, o BNDES conseguiu vender ações da União no IRB, por R$ 3,2 bilhões, em curto espaço de tempo. A operação do IRB envolveu diálogo amplo dentro e fora do BNDES, com a participação do Tribunal de Contas da União (TCU).

A discussão sobre a BNDESPar ocorre em contexto no qual existe a percepção, dentro do banco, de que o setor público pode vender as ações da carteira (R$ 105,4 bilhões, em 30 de junho) a qualquer custo. “Se o banco resolver sair torrando ativos sem ter considerações mínimas [sobre procedimentos internos], pode ser algo para atender o interesse fiscal, mas se transformar, também, em problema. Como banco público, o BNDES precisa ter celeridade, então, de alguma forma, é necessário encontrar o caminho do meio para viabilizar as operações”, disse um ex-diretor do banco.

O entendimento entre técnicos é de que Montezano quer rever normativos internos da BNDESPar para acelerar a venda de ações. Na semana passada, circulou informação de que a área técnica do banco analisaria proposta de vender ações “líquidas”, que compõem o Ibovespa ou o índice IBrX-100, por “preço de mercado”. A BNDESPar tem política escrita sobre como vender ações. A norma contempla venda em “mesa” para ações de empresas com muita liquidez, mas nas quais a fatia do banco é pequena; ou venda via oferta pública ou M&A [fusão e aquisição] em casos em que a fatia do banco é relevante, mas a ação tem baixa liquidez. Há ainda um caminho intermediário para participações relevantes e líquidas, podendo vender parte em “mesa” e parte em oferta pública. Valor Econômico -Leia mais em abinee. 21/10/2019