A Unilever, dona de marcas como Ben & Jerry’s e Magnum, parece ter perdido a mão na receita dos sorvetes. Como parte de um programa de reestruturação que vai eliminar cerca 7,5 mil empregos no grupo como um todo, a companhia resolveu também fazer uma cisão da divisão de sorvetes, que tem apresentado um crescimento inferior à média dos demais negócios.

A separação — assim como todo o programa de reestruturação do grupo — vai começar imediatamente e deve ser concluída até o fim de 2025. O negócio de sorvetes, que gerou 7,9 bilhões de euros em receita no ano passado (ou 13% do total da Unilever) e cresceu 2,3%, deve performar melhor enquanto empresa independente, defende o grupo.

A cisão do negócio de sorvetes e a entrega de um programa de produtividade ajudarão a criar uma Unilever mais simples, mais focada e com melhor desempenho”, disse Ian Meakins, chairman da Unilever.

A companhia ressaltou que a operação de sorvetes tem particularidades, como uma logística mais complexa e ação no ponto de venda, dada a necessidade de refrigeração. O grupo não deu detalhes dos efeitos da cisão mas a especulação dos investidores naturalmente recai sobre um M&A, com venda parcial ou total da unidade.

A relação entre a Unilever e o time da Ben & Jerry’s não tem sido fácil. Em 2022, por exemplo, a marca de sorvete abriu um processo contra o grupo depois que a Unilever vendeu sua operação em Israel sem consulta. Também houve um conflito sobre a presença do empresário americano Nelson Petz no conselho da Unilever, ao mesmo tempo em que ele ocupava na organização judaica Simon Wiesenthal Center, que chegou a propor um boicote ao sorvete depois que a chefe do negócio denunciou ações de Israel em Gaza.

O programa de reestruturação do grupo, que promete economizar cerca de 800 milhões de euros nos próximos três, faz parte de um esforço do CEO Hein Schumacher para dar uma resposta a investidores que tem cobrado a companhia por melhores resultados. Em bolsa, o papel acumula perda de 3,9% em 12 meses, embora suba mais de 3% nesta terça em Londres. A cisão do negócio de sorvetes, porém, gerou ceticismo no mercado.

“A decisão da Unilever de vender o seu negócio de chá, por exemplo, não levou a um impacto transformador nas operações ou no valor da empresa. É lógico que este último movimento para separar o negócio de sorvetes pode seguir um padrão semelhante, não oferecendo nenhuma metamorfose substancial”, disse Chris Beckett, chefe de pesquisa de ações da Quilter Cheviot, à CNBC… leia mais em Pipeline 19/03/2024