A Dr. Consulta, rede de clínicas de baixo custo que tem Jorge Paulo Lemann, José Galló e Nizan Guanaes entre seus investidores, está entrando no negócio de planos de saúde. Sua chegada se dá por meio da aquisição de 27,5% da Cuidar.me, start-up surgida no ano passado e cujo primeiro produto foi um plano de cobertura hospitalar que custa a partir de R$ 100.

O valor da transação não foi divulgado, mas a empresa fundada por Thomaz Srougi tem a opção de adquirir a fatia restante na Cuidar.me dentro de um ano e meio. Os fundadores da start-up, entre eles o cirurgião cardiovascular Marcus Vinicius Gimenes, vão se tornar sócios da Dr. Consulta.

O investimento se deu após uma parceria que resultou, há um mês, na criação de um plano de saúde que cobre atendimentos e exames nas 32 clínicas da Dr. Consulta na região metropolitana de São Paulo, além de pronto-socorro, internações e cirurgias em uma rede referenciada de 20 hospitais, como Oswaldo Cruz e Samaritano Paulista.

O plano custa a partir de R$ 179 e não tem coparticipação. Por ora, só está disponível na modalidade individual, mas a expectativa é lançar versão para o mercado corporativo. No primeiro mês de operação, o plano já chegou a mil vidas, e a expectativa da Dr. Consulta é fechar o primeiro ano com 12 mil.

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– Em contato diário com os pacientes, a gente descobriu que as pessoas querem plano de saúde. O Dr. Consulta só resolvia metade do problema dele. Através da Cuidar.me, a gente consegue fechar o ecossistema, oferecendo um plano que cobre hospital para a base da pirâmide. E vamos oferecer o plano aos 4,5 milhões de pacientes que temos cadastrados – diz Srougi, que fundou a Dr. Consulta em 2011 e agora preside seu conselho de administração.

A Dr. Consulta tem 35 clínicas, sendo a maioria na região metropolitana de São Paulo e algumas em Rio e Belo Horizonte. Segundo Renato Velloso, por usar essa rede de clínicas próprias, o plano lançado com a Cuidar.me já nasce “semi-verticalizado”, o que ajuda na redução de custos e de exames desnecessários, por exemplo.

Dados e Redução de Custo

Os executivos insistem que esse é um dos fatores que tornam o produto economicamente viável, mesmo enquanto operadoras de saúde tentam se livrar a todo custo de planos individuais. A Amil, por exemplo, acaba de pagar R$ 3 bilhões para que um fundo de investimento assuma uma carteira com 370 mil vidas.

– No atendimento, seja virtual ou físico, e nos exames, a gente usa nossa rede própria. Na hora que o paciente precisar de um atendimento de alta complexidade, eles usam os hospitais referenciados. Mas nossa vantagem é ter um prontuário eletrônico com os dados dos pacientes que os acompanha em toda essa jornada. Isso também ajuda na redução de custos desnecessários – afirma Velloso, cirurgião-dentista que foi um dos fundadores da Odontoprev e está à frente da Dr. Consulta desde 2019.

A Dr. Consulta vem se esforçando para se posicionar como uma healthtech – jargão do segmento para startups que usam tecnologia para inovar na saúde- , embora seus críticos insistam que a empresa deve sua reputação muito mais a um modelo inovador do que propriamente à tecnologia.

Velloso e Srougi, no entanto, sustentam que o uso intensivo de dados e inteligência artificial tem sido crucial para a viabilidade econômica do negócio. De acordo com a Dr. Consulta, seus atendimentos resultam, em média, no pedido de 2,2 exames, contra média superior a cinco na saúde suplementar como um todo. Com o plano de saúde, a aposta é que esse perfil resultará em menor sinistralidade, fechando a conta.

A parceria e participação societária na Cuidar.me também farão com que a Dr. Consulta aceite planos de saúde. Hoje, apenas um plano corporativo da SulAmérica, elaborado em parceria com a própria start-up, dá acesso a atendimentos na rede. Hoje, os clientes pagam por atendimentos e exames de maneira avulsa, com cartão ou dinheiro.

Primeira Aquisição

A aquisição de um pedaço da Cuidar.me é também a primeira da Dr. Consulta. A empresa até tem 75% da Yalo, start-up de benefícios de saúde que dá descontos da farmácia à academia e tem uma espécie de plano de assinatura da Dr. Consulta. Mas esse negócio surgiu primeiro dentro da própria empresa, antes de ser desmembrado por questões regulatórias, de acordo com Srougi.

A chegada da Dr. Consultano mercado de planos de saúde se dá após período especialmente turbulento na trajetória de dez anos da empresa. Com a chegada da pandemia, a empresa fechou permanentemente mais de 20 clínicas de sua rede, que chegou a ter 55 unidades. Mas Velloso afirma que, “com uma operação de guerra”, o negócio conseguiu seguir operando. Em paralelo, a companhia lançou atendimentos por telemedicina e coleta de exames em casa, além de entrar no filão de testes para Covid.

Este ano, a companhia diz ter atendido 900 mil pacientes únicos, registrado 2,2 milhões de visitas em suas unidades e realizado 2,4 milhões de exames. A receita líquida deve encerrar 2021 em R$ 315 milhões, 20% mais que em 2020…Leia mais em Capitolio 17/12/2021