Uma operadora líder de mercado, com infraestruturas em todo o país e um polo de inovação que exporta tecnologia para o mundo. Estas são algumas das estrelas da “galáxia Altice”, que fazem da Altice Portugalum negócio potencialmente atrativo para os investidores. Depois de ter desistido de o fazer em 2021, Patrick Drahi, o milionário que controla o grupo Altice, voltou a pôr à venda a operação portuguesa, uma transação que pode mudar a estrutura do setor este ano, quiçá, até ao nível da Península Ibérica.

Não há informações oficiais sobre a venda da Altice Portugal, que diz ser responsável por 6.000 postos de trabalho diretos e 15 mil indiretos. A imprensa tem noticiado que a oportunidade chamou a atenção de fundos como Apollo, Apax, CVC Capital Partners e, mais notavelmente, a Warburg Pincus, com a qual estará envolvido o ex-banqueiro António Horta Osório.

Mas também de players do mesmo setor: a Saudi Telecom, operadora estatal da Arábia Saudita, que tem 9,9% da espanhola Telefónica; e Xavier Niel, milionário francês que detém o grupo Iliad e é genro de Bernard Arnault, dono da marca Louis Vuitton e de uma das maiores fortunas do planeta.

Drahi pensa vender a Altice Portugal

Entretanto, alguns destes nomes ficaram pelo caminho. Na sexta-feira, a Bloomberg noticiou que pelo menos a Saudi Telecom, o grupo Iliad e o consórcio de que faz parte Horta Osório passaram à próxima fase do processo. E deu como certo que a Apollo e a CVC desistiram.

Há ainda uma hipótese de a Altice Portugal acabar a ser vendida em partes, embora se saiba que o projeto da Warburg Pincus e do antigo banqueiro português passará por recuperar a marca Portugal Telecom (e, por isso, quer os ativos todos). A agência diz que a Altice está a pedir entre 8.000 milhões e 10.000 milhões de euros pela subsidiária em Portugal, posicionando-o facilmente para ser o maior negócio do ano no país.

Milhões de portugueses estão bem familiarizados com a Altice Portugal, através da Meo, a joia da coroa do grupo no mercado nacional. É a operadora que fornece internet no telemóvel e em casa, que faz tocar o telefone fixo e que detém a box da televisão da sala.

Mas a empresa, que descende da antiga PT, depois de ter sido comprada pela Altice aos brasileiros da Oi em 2015, é muito mais do que isso. Por detrás dos serviços ao consumidor estão centros de dados (data centers), condutas, postes e até cabos submarinos, só para dar alguns exemplos, já para não falar de imobiliário. Conheça os principais.

Meo, a joia da coroa

A lista de ativos da Altice Portugal é extensa, mas é impossível não começar pela Meo. É a operadora líder de mercado em Portugal nos principais segmentos de consumo, de acordo com os dados do número de subscritores publicados pela Anacom relativos ao terceiro trimestre de 2023 (ver tabela).

A marca é de tal forma reconhecida em Portugal que, depois de ter anunciado em 2017 que a Meo seria extinta, Patrick Drahi acabaria por abandonar essa ideia, mantendo-a e reforçando-a até aos dias de hoje. Disso é exemplo o anúncio, já em 2024, de que a Altice Arena, a maior sala de espetáculos do país, vai voltar a chamar-se Meo Arena, designação que já teve no passado.

Segundo os últimos dados disponíveis, a fibra da Meo alcança 6,3 milhões de casas, número para o qual contribui a FastFiber (como ficará a saber mais adiante). E, apesar de ter vendido as torres de telecomunicações em 2018 — atualmente detidas pela Cellnex, mas subalugadas à Meo ao abrigo de um contrato de muito longo prazo, e extensível –, a operadora conta com mais de 5.000 sites móveis, vulgarmente chamados antenas.

No leilão de frequências da Anacom que terminou em 2023, a Meo investiu 125 milhões de euros a comprar espetro e tem estado a modernizar a sua rede móvel nos últimos meses. No final de setembro, das suas estações, 1.387 eram estações 5G. A 31 de janeiro de 2024, a Altice Portugal anunciou a conclusão do processo de desligamento do 3G, mantendo ativas as redes 2G e 4G, além da quinta geração, que pretende continuar a expandir.

Mais recentemente, a Meo implementou uma estratégia de diversificação das fontes de receita, levando-a a entrar em negócios fora do core das telecomunicações. É o caso da Meo Energia, uma comercializadora de eletricidade, que resultou da compra da PT Live, ou do pacote de serviços Meo Care, lançado em abril de 2022.

A Meo está ainda presente na venda de bilhetes para espetáculos, tendo, em 2020, adquirido 51% da Blueticket à Arena Atlântico, detentora do ex-Pavilhão Atlântico. A maior empresa de bilhética do mercado português foi entretanto designada de Meo Blueticket.

Além dos serviços para os consumidores finais, a Meo também fornece serviços específicos para as empresas, através da marca Meo Empresas, assim como serviços grossistas de telecomunicações, através da Altice Wholesale Solutions.

FastFiber, uma rede com fibra

A FastFiber é um operador grossista de fibra ótica, detido em 50,01% pela Altice Portugal. Teve origem no negócio que pôs nas “mãos” de um fundo gerido pelo Morgan Stanley Infrastructure Partners a restante fatia de 49,99% do capital em 2019.

A posição de controlo da Altice nesta empresa é estratégica, pois, na prática, ela gere uma parte significativa da rede de fibra ótica usada pela Meo para prestar os seus serviços. A Meo, por sua vez, vende serviços técnicos à FastFiber.

Para entender a dimensão da FastFiber, estamos a falar de uma rede com 5,5 milhões de casas passadas, às quais se somam as cerca de 200 mil da rede da Fibroglobal, que foi constituída com fundos europeus e que dá cobertura em 42 concelhos da zona centro e 12 concelhos dos Açores. Estes são os dados que a Altice Portugal apresentou aos investidores no teaser que ficou conhecido por Project Recital.

Aos investidores, a Altice Portugal revelou também que, em 2022, a FastFiber gerou cerca de 500 milhões de euros em receitas com os seus mais de 2.100 quilómetros de cabo.

Altice Labs, o “quartel-general de inovação”

Alexandre Fonseca saiu de cena — o ex-CEO da Altice Portugal já não tem ligações à Altice, na sequência da Operação Picoas –, mas ainda permanecem marcas do seu legado: o ex-gestor gostava de chamar à Altice Labs o “quartel-general de inovação” do grupo Altice.

A Altice Labs fica em Aveiro e descende da antiga PT Inovação. É um polo de investigação e desenvolvimento (I&D) que, nos últimos anos, tem encabeçado o filão exportador dentro da Altice Portugal: em junho do ano passado, o ECO escreveu que as vendas para o exterior do país já representavam 85% das receitas desta unidade, que também vende à própria Meo.

A tecnologia desenvolvida na Altice Labs é exportada para “mais de 60 países” e impacta 300 milhões de pessoas, de acordo com dados avançados pela CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, nessa altura. Alem disso, ao longo do ano passado, a Altice Labs foi sendo referida nos comunicados de resultados trimestrais como sendo a principal responsável pelo crescimento das receitas do segmento de serviços empresariais.

Um dos produtos mais visíveis criados neste centro é o Fiber Gateway, o router que a Meo tem vindo a instalar Meo nas casas de muitos clientes. A versão mais recente deste equipamento suporta Wi-Fi 6, uma tecnologia que, em linhas gerais, acelera o acesso à internet através de uma rede sem fios. Além de permitir aceder à internet, é a este produto que os clientes conectam a box da televisão e o telefone, servindo como porta de entrada na rede de fibra.

Na reta final de 2023, a Altice Labs passou por uma mudança de liderança: Alcino Lavrador, histórico engenheiro do grupo, que tinha iniciado a carreira na antiga PT Inovação, decidiu deixar os comandos “por vontade própria”. Foi substituído por Paulo Firmeza, que era desde 2020 o diretor de estratégia de inovação e digital deste polo da Altice… leia mais em Ecco 13/02/2024