Planejamentos estratégicos formulados no fim de 2010, quando o cenário era mais otimista, dificilmente serão cumpridos neste ano

Com furacão que se formou sobre as principais economias mundiais, nos EUA e na Europa, as empresas brasileiras provavelmente terão de rever seus orçamentos, ajustando-os a um cenário pior do que parecia ser em 2010.

O Brasil não ficará imune à atual crise nos EUA, deflagrada pelo rebaixamento do risco do país. A economia americana deve demorar mais para se recuperar do que o esperado, arrastando os demais países, avaliam economistas.

“Devido à crise americana, as empresas de todo o mundo, inclusive as brasileiras, terão de rever os seus orçamentos para 2011″, afirma Roberto Leuzinger, sócio da Booz & Company.

Quando as empresas brasileiras formularam seus planejamentos estratégicos, no fim de 2010, havia um maior entusiasmo em relação à economia e muitas delas aprovaram orçamentos agressivos para 2011. A situação, porém, mostrou ser mais árdua. Algumas empresas devem enfrentar dificuldades para cumprir com seus planejamentos estratégicos e metas de vendas.

Crise americana

Assim como aconteceu com o colapso das hipotecas (subprime), em 2007, e com a falência do Lehman Brothers, em 2008, a quebra de confiança gerada pelo rebaixamento do risco dos EUA aumenta o grau de incertezas e deve provocar uma nova onda de retração na oferta de crédito no mundo, afirma o economista do Ibmec Business School, José Ricardo da Costa e Silva.

Com a fuga de investidores das bolsas, as empresas também perdem uma fonte de capital para bancar futuros investimentos e expansões, o que deve obrigá-las a elaborar orçamentos mais conservadores, sobretudo para 2012.

“A economia mundial vai se retrair e isso afeta as demais economias. A demanda por commodities e o consumo podem se desacelerar”, afirma Costa e Silva, para quem a atual crise é ainda uma continuidade ainda das crises de 2007 e 2008. “É bom lembrar que a bolsa americana só se recuperou em 1950 do crash de 1929. Não era de se esperar que a crise de 2008 fosse superada em três anos”.

Brasil está melhor agora

Mas, na sua avaliação, o Brasil está menos vulnerável às especulações do que estava há três anos. O risco de um colapso de grandes empresas, como aconteceu em 2008 com a Sadia e a Aracaruz, parece ser menor agora.

“Em 2008, as empresas estavam mais alavancadas do que estão hoje. Não acredito que os especuladores também irão agora apostar contra o real (como ocorreu naquele ano)”, diz Costa e Silva. Até porque o dólar deixou de ser um porto tão seguro após o rebaixamento da dívida americana.

Iene, Euro e Yuan

O rebaixamento dos Estados Unidos reforça um ciclo, já em curso, de perda da hegemonia do dólar no mundo. Outras moedas continuarão ganhando espaço no comércio mundial, entre elas o iene, do Japão, o Euro e a o yuan, da China, afirma Costa e Silva.

Essas moedas tendem a ser fortalecer, o que também deve ter impacto sobre os negócios no Brasil. Esse movimento ficou claro, recentemente, com a aquisição do controle da cervejaria brasileira Schincariol pelo grupo japonês Kirin, afirma um consultor da área de fusões e aquisições. Com um iene fortalecido e baixas taxas de juros no país, a Kirin pagou um valor considerado elevado pela cervejaria brasileira, que pode lhe abrir as portas na América Latina.

Copa e Olimpíada

A Copa do Mundo e a Olimpíada também devem manter o grau de investimentos em patamares elevados no Brasil, o que faz com o que País continue na contramão das grandes economias mundiais, avalia o economista do Ibmec.

Na sua avaliação, a crise da dívida americana não deve colocar em risco os dois eventos. Segundo ele, como as obras são bancadas com recursos públicos, a retração na oferta mundial de crédito não tende a comprometer o orçamento destinado ao esses dois eventos. A crise global, acredita, também não deve inibir a vinda de estrangeiros ao Brasil para assistir aos jogos.

Fonte:iG09/08/2011