Apesar da alta do Ibovespa e da entrada de mais de R$ 47 bilhões de capital estrangeiro na B3 desde o início de janeiro, o ano não começou bem para as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). Em um mês e meio, já são 17 as empresas que suspenderam os planos de abrir capital à espera de um momento melhor. A tendência é que 2022 não tenha nem perto das 46 estreias que se viram na bolsa em 2021.

Há dinheiro entrando em renda variável, mas ele tem vindo sobretudo para papéis com mais liquidez e nomes mais conhecidos.

Esse fluxo comprador de ações está vindo de fundos passivos ou ETFs com participação relevante em Brasil, de acordo com um executivo de renda variável de um banco estrangeiro. “Os investidores estão alocando no país para se expor ao retorno do mercado brasileiro como um todo”, afirma, acrescentando que só mais à frente tende a haver uma seleção mais refinada de ativos.

A alta volatilidade é, neste momento, o grande empecilho para as candidatas a abrir capital, afirma Eduardo Miras, diretor do banco de investimentos do Citi. O executivo observa que a definição de preço de uma empresa no IPO depende da comparação com companhias do mesmo setor que possuem capital aberto. “Se você tem muita variação nas referências, é difícil encontrar um preço que satisfaça a todos os agentes envolvidos.”

É diferente de uma oferta subsequente de ações (“follow-on”), em que já existe um preço de referência no mercado – o preço de “tela” – para os ativos a ser emitidos.

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Fluxo estrangeiro não evita onda de desistência de IPOs

Por isso, é praticamente consenso entre os bancos de investimentos que os follow-ons terão muito mais sucesso neste ano. Participar de uma oferta de ações de uma empresa que já está no mercado é menos arriscado, além de ser um tipo de operação com mais liquidez.

Roderick Greenlees, diretor de banco de investimento do Itaú BBA, diz que espera entre 25 e 35 transações de mercado de capitais no ano, mas com um peso maior de operações subsequentes. “Se eu estiver na ponta inferior, estou falando de 15 follow-ons e dez IPOs. Talvez tenhamos de 20 a 25 follow-ons”, afirma.

Miras, do Citi, acrescenta que as ofertas subsequentes são muito menos dependentes de condições de mercado que os IPOs. O que pode acontecer são ajustes de preços. Foi o caso da Braskem, que suspendeu seu follow-on no fim do mês passado por discordar do preço oferecido pelos investidores.

No momento, segue mais uma perspectiva de follow-ons e não de IPOs, mas continuamos a ver um mercado mais seletivo por causa da taxa de juros mais alta”, afirmou ontem o presidente do BTG Pactual, Roberto Sallouti, em teleconferência sobre o balanço do banco.

No início deste mês, a BRF emplacou uma oferta primária de ações a R$ 20, levantando R$ 5,4 bilhões. Há expectativa de que a Alpargatas seja a próxima, com uma operação que poderia movimentar mais de R$ 2 bilhões.

Para os IPOs, o ano tem sido de estagnação. Nenhuma operação foi realizada e só um pedido de abertura de capital foi feito na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o da Senior Sistemas.

Mesmo assim, grande parte das 17 empresas que comunicaram à CVM a desistência de suas operações pretende retomar seus processos de IPO no futuro………leia mais em Valor Econômico 17/02/2022