O acordo de uma potencial fusão entre Petz e Cobasi causou disparada das ações na bolsa de valores diante das perspectivas de ganho de mercado e corte de custos para as empresas. Mas o negócio ainda dependerá também de aprovação das autoridades para sair do papel. O que está em análise para isso: se as duas empresas se tornarem uma só, como fica o consumidor?

Encontrar essa resposta para saber se o negócio pode acontecer é o trabalho do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A questão é que se a companhia surgida a partir da união de Petz e Cobasi será tão grande a ponto de sufocar a concorrência e impor seus preços.

A análise do Cade pode demorar, mas, enquanto isso, no mercado financeiro, a estimativa do tamanho que as duas empresas teriam no segmento pet (de 15% a 20% do total) trouxe alguma confiança de que a aprovação não deve encontrar grandes obstáculos.

“A fatia de 15% a 20% é baixa. Diversos outros segmentos possuem menos concorrentes”, diz Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos. “O mercado ainda é bastante fragmentado e tem muita concorrência. A maior parte das vendas vem de pequenas lojas de bairro, de outras redes ou de outras empresas de e-commerce. Não acredito que seja prejudicial para o consumidor.”

“Ainda é cedo para afirmar. Em teoria, monopólios costumam criar um ambiente prejudicial para os consumidores. Porém, ainda que haja 20% de mercado, a princípio o mercado continua pulverizado”, concorda Gabriel Costa, analista da Toro.

‘Nova gigante’ x comércio local

Mas há quem aponte que é preciso olhar além do número da fatia total de mercado. “As autoridades antitruste em geral só começam a se preocupar quando a concentração passa de 20%. Agora, é importante lembrar que nós estamos falando de comércio. Quando você está falando de varejo, o que importa são os mercados regionais”, destaca Mário Nogueira sócio de M&A e Concorrencial do NHM Advogados.

“Digamos que haja uma enorme concentração, por exemplo, de Cobasi e Petz e na cidade de São Paulo elas têm 90%. Mesmo que nacionalmente seja 15%, na cidade de São Paulo seria um problema muito importante que pode até, nesta hipótese, dizer que não podem se fundir”, analisa ele.

“Então, dizer que é 20% nacional não quer dizer que, na hora em que a gente pegar individualmente as lojas, não possa haver problemas específicos a serem tratados.”

Sobre essa possibilidade, Pedro Afonso Gomes, presidente do conselho regional de economia do Corecon-SP, concorda que “pode haver uma situação um pouco diferente em mercados em que a Cobasi e a Petz, reunidas, tenham um percentual de participação de mercado muito maior que os 20%”, e então “pode acontecer de elas ditarem preços”.

Sérvulo Mendonça, chairman da holding SM e do Grupo Épicus, também chama a atenção para a robustez dos números. “De forma alguma 20% de um mercado significa pouco, até porque poucas atividades conseguem atingir esse percentual em relação a players de mercado.” Mas ele prossegue: “não chega a ser algo que economicamente poderia criar regras próprias para o mercado”.

A leitura de grande parte dos especialistas então é de que o comércio local ainda terá sua importância e continuará fazendo frente à Cobasi e Petz (seja com as empresas juntas ou separadas).

“Não é interesse da Petz e da Cobasi estar em todos os lugares. Por isso, ainda há muito espaço para as empresas desse ramo que queiram se instalar como pequenos negócios”, avalia Gomes.

Na mesma direção, Marcos Milan, professor da FIA Business School, destaca que “estamos falando de 1/5 de um mercado de R$ 60 bilhões. É algo muito grande, mas que ao mesmo tempo permite ao consumidor ter o poder de escolha, ou seja, não se trata da formação de um monopólio”.

Há ainda outro ponto destacado por ele: o consumidor não é o único em busca de melhores preços. Isso porque varejistas têm seus fornecedores e, nesse tipo de discussão, tamanho pode ser documento.

“Uma vez que não há mais a concorrência entre as duas empresas, não há mais a necessidade de uma abrir loja nas proximidades de onde a outra abrir. Essa sinergia deve beneficiar o consumidor pois, com mais poder de barganha, a rede poderá negociar melhores preços de produtos com seus fornecedores”.

A ideia então é que melhores preços de compra podem ser repassados na revenda, beneficiando assim o consumidor na ponta final. Se isso de fato vai acontecer ainda é incerto – assim como a aprovação do negócio pelo Cade… saiba mais em IstoÉ Dinheiro 20/04/2024