A empresa brasileira de cosméticos, Grupo Boticário, conseguiu captar R$ 2 bilhões através da emissão de debêntures vinculadas a objetivos ESG, que significa Governança Socioambiental. Esses títulos de dívida, conhecidos como sustainability-linked bonds (SLB), estão ligados ao cumprimento de metas sustentáveis predefinidas.

No caso do Boticário, a meta estabelecida é que 100% dos produtos de todas as suas marcas próprias sejam de origem vegana até dezembro de 2026. É importante notar que matérias-primas de origem animal são comumente usadas na indústria de cosméticos para fabricar produtos de beleza e fragrâncias pessoais.

Para ilustrar, em 2022, cerca de 93,6% dos produtos eram de origem ecológica. Em seus comunicados, o Boticário afirma que o veganismo busca eliminar, na medida do possível, a exploração animal e promover alternativas livres dessa origem para o benefício de seres humanos, animais e do meio ambiente.

Entretanto, o grupo reconhece que ainda não encontrou substitutos para algumas matérias-primas de origem animal, como leite de vaca e mel de abelha. Comprometeu-se a encerrar este ano com 95,4% de seu portfólio totalmente vegano, chegando a 98% em 2024 e, finalmente, a 100% em 2025.

Além disso, o grupo também estabeleceu como meta usar 80% da água de reuso gerada na fábrica em São José dos Pinhais (PR), onde está localizada sua principal unidade fabril, até 2029. Atualmente, cerca de 30% do volume total de água captado é descartado, sendo que, em 2022, a fábrica paranaense não utilizava água de reuso.

No entanto, com um investimento de quase R$ 10 milhões em uma estação de tratamento de água, os primeiros resultados de reuso começaram a surgir este ano. Em outubro de 2023, a unidade no Paraná já utilizava 10% da água de reuso e a meta é chegar a cerca de 12% até o final do ano. Em 2024, a empresa pretende investir mais R$ 3,5 milhões nessa frente, alcançando 15%.

Sem apelo aos investidores

Como o Grupo Boticário não é uma empresa de capital aberto, os títulos não foram disponibilizados para investidores e permaneceram com o banco coordenador da emissão, o UBS BB. As debêntures têm um prazo de sete anos, com vencimento em dezembro de 2030, e uma remuneração inicial de taxa DI mais 1,5% ao ano.

Se as metas de produtos veganos não forem cumpridas até dezembro de 2026, a taxa de juros total paga aumenta para 1,7% ao ano nos pagamentos subsequentes. Se a meta de reuso de água não for alcançada, a sobretaxa sobe para 2,3%, podendo chegar a 2,5% se ambas as metas não forem cumpridas no prazo estipulado.

Apesar disso, esta não é a primeira vez que o Grupo Boticário realiza esse tipo de operação. Em dezembro de 2020, a empresa fez a primeira operação do tipo SLB no mercado nacional, captando R$ 1 bilhão. A emissão foi totalmente gerenciada pelo Itaú BBA, que coordenou a operação. Naquela época, a meta era ter 100% de energia renovável em suas fábricas e centros de distribuição em todo o país.

A empresa não planeja abrir seu capital na B3. Durante um evento recente em São Paulo, o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo, Artur Grynbaum, questionou: “Por que faríamos um IPO [Oferta Pública Inicial de Ações]?”. Na mesma ocasião, em setembro deste ano, o fundador e atual presidente do conselho, Miguel Krigsner, destacou: “Temos muito medo de perder o que foi criado com muita dedicação e amor”, acrescentando que grandes organizações tendem a perder sua essência à medida que abrem seu capital.

Assim, a empresa continuará principalmente sob controle familiar. Fundado em 1977, o Boticário possui mais de 4 mil lojas – a maioria delas franquias – e mais de 1 milhão de revendedores diretos. Ao todo, são mais de 15 mil funcionários diretos, número que chega a quase 50 mil se forem incluídas as unidades franqueadas.

Além do Boticário, o grupo detém marcas próprias como Eudora, Quem Disse, Berenice?, Beauty Box, Vult, O.U.i, Dr. Jones, Tô.que.tô e Truss. Além disso, possui a empresa de soluções de Tecnologia da Informação (TI), GAVB, e a fintech MOOZ… leia mais em VeganBusiness 04/04/2024