Gestores de venture capital dos Estados Unidos acumulam US$ 311 bilhões em caixa, resultado da decisão de evitar apostas arriscadas em companhias iniciantes do Vale do Silício e se concentrar em encontrar meios de devolver capital aos seus próprios investidores.

As firmas americanas de VC desembolsaram apenas metade do volume recorde de US$ 435 bilhões que captaram junto a investidores durante o boom da pandemia, entre 2020 e 2022, segundo aponta a PitchBook, que compila dados sobre o mercado. Isso se somou a uma pilha de reservas não mobilizadas – o “dry powder” – que se acumulou à medida que as gestoras passaram a adotar uma posição mais cautelosa nos investimentos em meio à queda das avaliações das startups.

As firmas vêm preferindo encontrar meios de apoiar grupos de tecnologia mais estabelecidos ou apoiar suas carteiras existentes de empresas. A Thrive Capital de Josh Kushner, uma das gestoras de venture capital mais ativas, assinou no ano passado vários grandes cheques para companhias que já fazem parte de sua carteira. Isso inclui investir US$ 1,8 bilhão na fintech Stripe, que está avaliada em US$ 50 bilhões. A Thrive também está liderando uma compra de ações de funcionários da OpenAI, a criadora do ChatGPT, num negócio que avalia a companhia em US$ 86 bilhões.

Gestores de venture capital estão sentados em US$ 300 bilhões nos EUA
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“Existe dry powder, com certeza, mas não é como se o mundo fosse ser inundado novamente com dinheiro de venture capital”, diz Ibrahim Ajami, chefe de iniciativas de risco da Mubadala Capital, parte do fundo soberano de US$ 276 bilhões de Abu Dhabi, o Mubadala Investment Company.

Ajami acrescenta que muito desse poder de fogo será usado para “limpar a bagunça” provocada durante um período de juros ultrabaixos, que foi exposta quando o aumento das taxas de juros sobrecarregaram as startups com custos maiores.

Os fundos captaram um volume sem precedentes de recursos durante a pandemia de covid-19. A Andreessen Horowitz levantou US$ 4,5 bilhões para direcionar para as criptomoedas; Katie Haun, uma ex-sócia da Andreessen, e seu novo fundo cripto captaram US$ 1,5 bilhão; a Tiger Global Management levantou US$ 12,7 bilhões em um dos maiores fundos de venture capital de todos os tempos.

Mas agora os fundos estão sobre pressão para retornar capital para seus próprios apoiadores – investidores institucionais, fundações e fundos de pensão, conhecidos como limited partners.

Geralmente, os cotistas recebem um retorno quando um fundo de venture capital sai com sucesso de uma startup no ponto em que ela é vendida ou abre o capital. Mas o pouco número de saídas significa que as firmas de venture capital baseadas nos EUA distribuíram apenas US$ 21 bilhões de volta aos seus sócios limitados no ano passado – um sétimo do total pago em 2021, segundo a PitchBook.

“Os limited partners geralmente não gostam de pressionar as firmas de venture capital para que elas gastem dinheiro, mas se você estiver entrando no seu terceiro ano e não fez nada, eles começarão a perguntar para que servem seus investimentos”, diz um investidor de venture capital do Vale do Silício.

A maioria das gestoras continua cobrando dos cotistas uma taxa de administração independentemente de eles terem feito investimentos ou não, mas no ano passado a Sequoia Capital, um dos principais grupos de venture capital de tecnologia, começou a abrir mão das taxas sobre o capital que ainda não comprometeu com empresas em alguns de seus fundos.

As casas estão buscando meios criativos de retornar capital, como o lançamento de novos veículos de investimentos conhecidos como fundos de continuação, que liberam dinheiro em ativos existentes sem uma saída tradicional. A Lightspeed Venture Partners, uma das maiores firmas do Vale do Silício, está formando um fundo de US$ 1 bilhão desse tipo.

O diretor de investimentos de um grande fundo patrimonial diz que gostaria que os fundos de venture capital que ele apoiou, que incluem alguns dos maiores nomes do Vale, devolvessem parte do dinheiro aplicado pelos cotistas em vez de permaneceram com ele por muito mais tempo.

No crash de primeira bolha tecnológica em 2000, vários fundos reduziram significativamente seus ativos”, diz ele. “Espero que vejamos isso, as firmas de venture capital reduzindo o tamanho de seus fundos e perdoando compromissos com seus investidores e se redimensionando. Isso seria um resultado muito bom.”

Com as firmas de venture capital resistindo a gastar suas reservas, as empresas jovens sem um caminho certo para a lucratividade, ou uma saída lucrativa, enfrentarão quedas drásticas em suas avaliações e possivelmente até a falência.

O colapso de startups dobrou no último ano, segundo a PitchBook. Empresas antes avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, como a Hopin e a Convoy estão entre as baixas…. leia mais em Pipeline 30/01/2024