Gestores estão seletivos para novas ofertas de ações
A avalanche de ofertas (IPOs e follow-ons) prevista para os próximos meses abre o leque de possibilidades de alocação de recursos, mas gestores de fundos de investimentos estão seletivos e prometem avaliar caso a caso, principalmente em relação aos preços. Em processo de análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), são mais de 40 pedidos de IPOs, mas no mercado comenta-se que o número pode ultrapassar a casa dos 60.
A preferência, segundo os gestores consultados pelo Valor, é por aquelas empresas mais consolidadas em seus mercados e que pretendem usar os recursos para a expansão dos seus negócios.
O IPO da rede de petshops Petz foi o mais mencionado de forma espontânea como o mais analisado e que deve ter mais sucesso. Outros nomes citados foram o Grupo Mateus, de supermercados, a Compass Gás e Energia, subsidiária da Cosan, e a oferta subsequente da BR Distribuidora. Já o IPO da varejista Havan, que planeja captar R$ 10 bilhões, deve emplacar, mas não nos preços comentados.
Entre as operações que deverão ser observadas a fundo e tendem a ser menos atrativas, gestores mencionaram as ofertas do setor farmacêutico e de construção. Eles observam que muitas dessas empresas já foram a mercado e tiveram que reduzir seus preços para emplacar as ofertas. Os casos mais recentes foram a rede de farmácias Pague Menos e a incorporadora Lavvi. Na lista para sair, estão as operações da farmacêutica Nissei e, entre as incorporadoras, a Cury e Plano & Plano.
Da lista de IPOs realizados no segundo semestre de 2020, somente D1000 e Lavvi fecharam na sexta-feira com o valor da ação abaixo do preço de lançamento da oferta recuo de 30,12% e 9,2%, respectivamente. Já Ambipar sobe 28,1% ante o preço do IPO, Grupo Soma tem uma alta de 21,2%, Quero Quero sobe 14,8% e Pague Menos ganha 22,35%.
Segundo um gestor que prefere não ser identificado, é comum no mercado de capitais aparecerem histórias fracas em um momento de aquecimento, como o atual, no qual as companhias querem aproveitar a migração de recursos da renda fixa para a renda variável, causada pela baixa taxa de juros, para antecipar a captação. “Dessa leva atual, todas vão sair? Acho que não. Vai depender muito do mercado e da história contada, além da perspectiva de expansão”.
Ele exemplifica com o caso da Petz, que “com certeza vai sair” por ser um negócio resiliente e com meta de uso dos recursos para novas lojas e investimento na operação digital. A empresa definiu o preço de R$ 12,25 a R$ 15,25, podendo a oferta atingir R$ 3,361 bilhões.
Já na Plano & Plano, o gestor chama atenção para a maior parte dos recursos ser captado por meio de uma oferta secundária, ou seja, direcionado para o acionista.
“Tem que vir com um desconto muito grande para despertar interesse. A empresa precisa mostrar o plano e a meta de crescimento para que isso seja colocado no valuation [valor da empresa]”. Conforme o prospecto da Plano & Plano, no qual a Cyrela possui 50% do capital social, a oferta pode chegar a R$ 861,7 milhões ao preço máximo de R$ 13,50, sendo R$ 804,25 milhões na oferta secundária.
O setor de construção, na avaliação de outro gestor, que também prefere não ser identificado, necessita de capital intensivo, o que justifica tantas companhias com pedidos em análise. O investidor, entretanto, precisa ter um filtro apurado, principalmente pelo histórico de algumas companhias. A PDG Realty, por exemplo, entrou com pedido de recuperação judicial em 2017, com dívidas superiores a R$ 7,7 bilhões e paralisou obras.
No caso da Havan, ele diz que o valor da empresa está muito elevado e que a oferta será emplacada, mas será menor. Segundo fontes ouvidas pelo Valor recentemente, a Havan pretende chegar à bolsa valendo R$ 100 bilhões, próximo ao valor de mercado do Magazine Luiza, de R$ 140 bilhões. “É aquele caso que será preciso atenção”, diz.
Para o gestor de portfólio da Western Asset no Brasil, Cesar Mikail, há demanda para o número crescente de ofertas, devido a taxa de juros no menor patamar histórico. “Mas pode ser que alguns não despertem interesse pela questão de preço, mas muitos vão caminhar porque o mercado sente falta de histórias novas”, diz, mencionando também a Petz. “O investidor vai fazer a conta e vai depender de caso a caso”.
Mikail menciona o exemplo da Pague Menos, no qual os investidores compararam com outras ofertas recentes. Assim, o preço final ficou em R$ 8,50, abaixo da faixa indicativa de R$ 10,22 a R$ 12,54.
Outra mudança nessa leva recente de ofertas, de acordo com o gestor da Western, está na pessoa física. Muitos têm se interessado por IPOs, mas com a estratégia de venda já no dia seguinte. “Uma ou outra operação já tem colocado regra de lockup [que impede a venda pelo acionista] por 30, 60 ou 90 dias”, diz, lembrando que normalmente a fatia destinada ao varejo é limitada a 10%.
Guilherme Motta, gestor da Gap Asset, acredita que há recursos para tantas as ofertas, principalmente de fundos multimercados, que estão pouco alocados em bolsa. “Mas o que eu vejo é que o mercado terá que ser seletivo. Vai ter fluxo, mas muita oferta não vai sair porque o mercado será bem seletivo e isso será visto no preço.” Entre suas apostas, Motta acredita no sucesso do IPO da Petz, Grupo Mateus e Compass, por serem empresas consolidadas, com demanda e negócios interessantes.
Entre os follow-ons, ele acredita na BR Distribuidora, cuja fatia de 37,5% a ser vendida pela Petrobras pode levantar R$ 9,22 bilhões. Fonte: Valor economico Leia mais em portal.newsnet 08/09/2020