Empresário critica postura conservadora de executivos brasileiros, vistos por ele como pouco afeitos ao risco.

Em meio à expressiva perda de valor de mercado de suas empresas nos últimos dias, o empresário Eike Batista reforça que a estratégia de seu grupo, o EBX, está no longo prazo.

“Eu aprendi a criar projeto do zero e não tenho problema com o tempo”, afirma. Despreocupado com a baixa de suas empresas na bolsa de valores, ele critica a postura imediatista do empresariado brasileiro. “Esse pessoal que administra resultado por trimestre não cria mais riqueza”, diz.

O empresário brasileiro está preparado para esse momento de economia forte? Qual a sua visão geral da sua categoria?

Eu chamei aqui os grandes empreiteiros e falei que eles eram grandes, que tinham feito caixa e que eu ajudaria a criar uma companhia de petróleo. Falei para botarem US$ 1 bilhão ou US$ 2 bilhões a risco, calculando uns US$ 100 milhões para furar um poço.

Sabe qual foi o pensamento unânime? “Ah, então eu posso furar um poço e não eventualmente não achar nada? Não temos estômago para isso.” Os caras preferem ganhar 10%, 15% em um contrato com o Estado do que se arriscar.

Se o Brasil tivesse a cultura de gastar um pouco mais em pesquisa… Eu tenho coisa demais no meu prato, mas eu vou investir. Me chama a atenção que é o Estado, é a Petrobras que descobre petróleo. Eu aprendi a criar projeto do zero e não tenho problema com o tempo.

O Açu começou a ser desenhado em 2005 (como porto para exportação de minério, antes de virar um complexo industrial no Norte do Rio de Janeiro, com previsão de receber US$ 40 bilhões de aportes na próxima década). Esse pessoal que administra resultado por trimestre não cria mais riqueza. Projetos bons, transformacionais, ricos levam tempo.

O empresariado, então, não se moderniza por que fica preso a uma margem de lucro garantida?

Se o tio do cara engorda boi, ele vai engordar boi. No Brasil, o cara corta madeira e vende. É uma cultura imediatista. Falar de um projeto de três anos é longo prazo. Aí, alguém que pensa como a gente parece doido. E outra coisa, o segredo é ter gente técnica.

Taí uma coisa que ninguém entende como é que eu arrisquei bilhões de dólares. Eu sei o que é um geólogo poeta e o técnico com uma cabeça econômica. Descobri um grupo que tem essa visão.

O Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, quando diretor do Bradesco, ajudou a estruturar a abertura de capital da TMP, sua empresa de mineração nos anos 1980. Ele está desempregado agora, o senhor o contrataria?

De jeito nenhum. Metade dos CEOs está no lugar errado.

Qual é a metade boa?

Eu gosto do pessoal da Gerdau e o Jorge Paulo Lemann (um dos donos da Ab InBev e sócio de Eike Batista no Burguer King), por toda uma cultura de gestão que a gente tira o chapéu.

Como o senhor faz para gerir a sua holding, com negócios tão variados como petróleo, energia, minério, infraestrutura e logística?

Eu esbarro com os executivos no corredor. Minha porta está aberta para eles toda hora. Eles fazem uma reunião semanal entre eles e eu tenho uma na holding com a diretoria. Tenho um diretor especial de implantação e execução que faz a checagem da checagem, vigia por tudo quanto é lado.

Todos os executivos são sócios, eu dou um pacote de ações para eles do meu bolso por um prazo de dez anos e, se ele sair, perde. Se um diretor saiu depois de 1,5 ano, ele não recebe esse meio ano. O acordo é receber o ano cheio. Esse é o acordo.

Essa é a discussão com o Rodolfo Landim?

É essa. Ele saiu e recebeu o que tinha de receber naquela data. Foi tudo colocado no papel e ele recebeu.

Mas e a história dele querer vender as ações que têm?

As regras da casa dizem que você tem de ficar cinco anos sem vender ações. Isso porque os projetos demoram cinco anos para maturar e é preciso alinhar os interesses.

O alinhamento é o mais importante, porque os executivos sabem que se o barco afundar eles afundam junto. O alinhamento de interesses é o grande problema do mercado de capitais, por exemplo, onde o bônus vai para o bolso do banqueiro independente de dar certo ou não.

E como é a remuneração de seus executivos?

Além de a gente ser generoso nos pacotes (de ações), de tal maneira que você não vê gente saindo daqui, é difícil o mercado competir conosco porque os caras ganham muito dinheiro aqui. O salário aqui é sempre baixo, não deve passar de R$ 60 mil na diretoria.

Fonte:BrasilEconômico16/08/2011