As ações da Minerva despencaram ontem na B3, um dia após o anúncio pela empresa da compra de 16 plantas da Marfrig, por R$ 7,5 bilhões. Temerosos acerca do aumento imediato no endividamento da Minerva e com o grau de incertezas da operação, investidores derrubaram os papéis da empresa em 18,3%. A reação negativa fez a maior exportadora de carne bovina da América do Sul perder R$ 1,2 bilhão em valor de mercado no dia.

Por outro lado, o movimento da Marfrig, maior fabricante de hambúrgueres do mundo, de reduzir sua exposição em commodity para focar em produtos de maior valor agregado, foi bem avaliado e levou os papéis da companhia a uma alta de 10,7%, um ganho de quase R$ 500 milhões em valor na bolsa.

“Acho que a reação na bolsa é muito mais de curto prazo do que atenta ao equilíbrio que deve vir (para a Minerva) no médio prazo”, disse o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

Para comprar as plantas de abate de bovinos e ovinos, sendo 11 ativos no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e uma no Chile, a Minerva pagou R$ 1,5 bilhão com recursos do caixa e contará com financiamento de outros R$ 6 bilhões por meio de uma linha de crédito em parceria com o banco JP Morgan. O valor final será pago apenas após a aprovação das autoridades reguladoras.

Minerva perde R$ 1 2 bilhão após compra de ativos da Marfrig

Com isso, os analistas calculam que a relação entre dívida líquida e Ebitda (alavancagem) da companhia, que terminou o segundo trimestre em 2,7 vezes, vai avançar no curto prazo para 3,3 vezes e depois entrar em um processo de redução gradativa ao longo dos próximos 12 meses, até chegar as 2,55 vezes estimadas pela Minerva para 2024.

Segundo Cruz, o mercado fica inseguro quando uma empresa assume um endividamento acima de 2 vezes a dívida líquida por Ebitda e, até então, o frigorífico era visto como a mais desalavancado do setor de carnes.

“Apesar do guidance da companhia, o mercado está com certa dificuldade em precisar o valor pago pela Minerva pelas operações da Marfrig. Então, além da preocupação com alavancagem, as ações também refletiram esse aumento na incerteza”, disseram Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, da área de Agro, Alimentos e Bebidas da XP ao Valor.

A expectativa da Minerva é que a capacidade de abate de bovinos aumente 43,7%, para 42.439 cabeças por dia, distribuídas em 40 plantas. Já em ovinos esse número chegará a 25.716 cabeças por dia, por meio de cinco plantas. O faturamento líquido dos ativos adquiridos foi estimado em R$ 18 bilhões e o Ebitda em R$ 1,5 bilhão, resultando em uma margem de 8%.

O fato de todas as plantas serem adquiridas de uma única empresa favorece a captura de sinergias esperada pela compradora, diferentemente de aquisições que são feitas “picotadas”, ressaltou o… leia mais em Globo Rural 30/08/2023