No mundo dos negócios, os números não mentem. Mas também não dizem tudo. A decisão da Natura de vender a The Body Shop, na terça-feira (14), é uma prova disso. A gigante brasileira do setor de beleza confirmou que fechou acordo com a Aurelius Investment Advisory, empresa de private equity de capital alemão, para a venda da The Body Shop. O valor da operação deve ficar em 200 milhões de libras (R$ 1,2 bilhão) e será concluído até 31 de dezembro deste ano.

Existem, no entanto, dois pontos de vista para avaliar a transação. No lado positivo, a venda representa um importante reforço de caixa para a companhia, que tem sofrido com a alta dos custos de matérias-primas e oscilação cambial. No outro extremo, parece um péssimo negócio, já que a Natura vai embolsar 20% do que pagou pela marca seis anos atrás.

A Natura enxerga como positivo. “A transação de venda apoiará os esforços da Natura & Co para otimizar suas operações e simplificar seus negócios, além de posicioná-la para focar em prioridades estratégicas, especialmente a integração da Natura e Avon na América Latina, o modelo de venda direta e a otimização adicional da presença internacional da Avon”, disse a empresa, em comunicado.

Ao vender parte de seus ativos, o foco da Natura é reduzir seu endividamento. No primeiro semestre, a dívida líquida ficou em R$ 10 bilhões. A empresa vendeu sua linha de produtos de luxo Aesop para a L’Oreal por US$ 2,52 bilhões neste ano.

Em agosto passado, o Conselho de Administração aprovou a venda da The Body Shop. Em outubro, a empresa já havia anunciado conversas com o fundo europeu.

Ficou a lição de que não conhecemos varejo o suficiente mundo afora para fazer as mudanças necessárias.” Fabio Barbosa, CEO da Natura

Um sinal de que a venda abaixo do valor pago parece ruim, mas não é, foi a reação dos investidores. Logo depois do anúncio da venda, as ações ordinárias da Natura (NTCO3, com direito a voto) fecharam em alta de 2,88%, negociadas a R$ 14,30.

Dessa vez, a venda da The Body Shop representa uma correção de rota da Natura. Nos últimos anos, a empresa fez uma série de aquisições, com o objetivo de realizar uma expansão internacional.

Nesse sentido, ocorreram as compras da Aesop, The Body Shop e Avon. Essa última aquisição fez com que a empresa adquirisse o atual formato de Natura&Co. A intenção era com que a empresa se tornasse uma plataforma global de marcas do setor de beleza, como no modelo adotado pela L’Oréal.

R$ 10 bilhões foi a dívida líquida da Natura no primeiro semestre, cifra que será reduzida com a venda da The Body Shop
A revisão das estratégias de expansão inclui se desfazer de ativos menos rentáveis para focar as estratégias em mercados de maior potencial, como a América Latina.

Segundo o CEO, Fabio Barbosa, a The Body Shop serviu como lição para a Natura. “Ficou a lição de que não conhecemos varejo o suficiente mundo afora para fazer as mudanças necessárias. O Aurelius tem essa experiência, mais expertise. E eles vão até levar adiante algumas das coisas que pensamos para a The Body Shop”, afirmou. Sai a The Body Shop, fica o aprendizado… saiba mais em Isto é Dinheiro 18/11/2023