O acionista controlador do grupo Rede Energia, Jorge Queiroz, colocou à venda sua parte na empresa, de 54% do capital total, e os interessados têm até o fim da semana para analisar a companhia e fazer suas propostas ao Banco Bradesco de Investimento (BBI), que foi contratado para a operação.

O Rede tem ainda entre seus acionistas o Fundo de Investimento do FGTS, que fez um aporte de cerca de meio bilhão de reais há pouco mais de um ano, e a BNDESPar, que transformou parte da dívida da companhia em ações. Procurada, a companhia não se manifestou.

Dona da concessão de distribuidoras de energia em sete estados brasileiros, há anos o Rede está em dificuldades financeiras – com prejuízos frequentes e tendo de administrar um alto endividamento. Seu último balanço, com dados do terceiro trimestre de 2011, mostra vencimentos de empréstimos e financiamentos de curto prazo da ordem de R$ 2 bilhões e outros R$ 5 bilhões de obrigações de longo prazo. O caixa equivalente da empresa era em setembro de R$ 762 milhões.

No setor elétrico, a expectativa sobre a venda do negócio acompanhou a empresa por um longo tempo, mas a capitalização do FI FGTS parecia ter dado novo fôlego à companhia, no ano passado. O empresário Jorge Queiroz ficou famoso por não abrir mão de sua empresa, boa parte dela adquirida nos processos de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso. Mesmo sem ter planos de entregar o controle, a própria administração da empresa já admitia que seria necessário buscar um novo sócio além do FI FGTS.

A situação, entretanto, se tornou ainda mais difícil depois que foram aprovadas as novas regras tarifárias. Pela nova forma de cálculo, a capacidade de geração de caixa das empresas de distribuição vai ser reduzida em cerca de 40%. Além disso, os reajustes anuais serão atrelados à qualidade do serviço, o que coloca algumas distribuidoras do grupo em ainda maior dificuldade.

As pequenas distribuidoras, que atuam em cidades do estado de São Paulo, estão entre as que mais se destacam em qualidade e gestão, segundo prêmios concedidos pela Associação das Distribuidoras de Energia (Abradee). Outras passam por sérios problemas e sequer conseguem alcançar as metas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é o caso da Celpa, distribuidora que atende o estado do Pará e tem a Eletrobras como acionista.

A situação da Celpa ficou crítica em 2010 quando as multas aplicadas pela Aneel em função da falta de qualidade tomaram todo o lucro da companhia. Para tentar salvar a distribuidora, o próprio controlador, Jorge Queiroz, decidiu interromper sua aposentadoria para pessoalmente tentar estruturar uma recuperação da empresa. Os números de qualidade melhoraram substancialmente, mas ainda há muitos desafios na região.

Além do estado do Pará e de algumas cidades do interior de São Paulo, o Rede tem concessão das distribuidoras do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins e em cidades de Minas Gerais e Paraná. As conversas entre presidentes de empresas são que uma dezena de grupos estaria avaliando a companhia, mas poucas com interesse verdadeiro e condições de fazer uma oferta. Quem eventualmente adquirir o Rede, terá imediatamente a concessão em um terço do território brasileiro e cinco milhões de consumidores sob sua tutela. A companhia tem 14 mil funcionários e atua em 578 cidades.
Fonte:ValorEconômico07/12/2011