Alvo de desejo de grandes multinacionais nos últimos dois anos, as indústrias farmacêuticas nacionais vão continuar no olho do furacão em 2012.

Os novos negócios, contudo, deverão se concentrar em laboratórios de pequeno e médio portes no país, ao contrário do movimento observado nos últimos anos, quando as grandes companhias estavam na mira para aquisições.

Um levantamento feito pelo Valor mostra que pelo menos cinco transações nesse setor, que incluem aquisições, expansão de negócios por meio de licenciamento de medicamentos, além de construção de novas unidades produtoras, deverão agitar o segmento farmacêutico nos primeiros meses de 2012.

“Mas os negócios serão fechados dentro de uma nova realidade de preços. As últimas aquisições colocaram os preços dos ativos nas alturas, afugentando boa parte das multinacionais interessadas em entrar no país”, disse uma fonte do setor. A crise internacional reduziu o apetite de investimentos das grandes multinacionais farmacêuticas, que anunciaram demissões e perderam receita com importantes quebra de patentes. “Essas empresas não vão comprar nada no sobrepreço porque não vão ter o retorno de volta”, afirmou a mesma fonte.

A última grande aquisição farmacêutica no país, a Mantecorp, realizada no fim de 2010, foi avaliada em 21 a 22 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Tradicionalmente essas transações no mercado global giram de seis a sete vezes o Ebtida.

A retomada do movimento de concentração começou há dois anos, com o maior interesse de grandes multinacionais avançarem no segmento de genéricos no Brasil, que está em franca expansão. Em 2009, a francesa Sanofi-Aventis deu o primeiro passo, com a aquisição da nacional Medley. No mesmo ano, a farmacêutica Neo Química, de Anápolis (GO), foi adquirida pela Hypermarcas, que um ano depois comprou o laboratório Mantecorp. No ano passado, a americana Pfizer, que também estava no páreo para levar a Neo Química, adquiriu 40% da Teuto, também instalada em Anápolis.

Apesar de boa parte dos grandes ativos terem sido arrematados nesses últimos dois anos, alguns negócios no segmento farmacêutico estão no gatilho.

A Entregga, empresa recém-criada para investir em laboratórios e saúde em geral, associou-se ao fundo Kinea, do banco Itaú, para comprar participações minoritárias em laboratórios de pequeno e médio portes. A expectativa, segundo Wolney Alonso, diretor e um dos sócios da Entregga, é fechar pelo menos uma operação em 2012 em parceria com o fundo. A Entregga também está de olho em laboratórios “start ups” (iniciantes), mas esse negócio será fechado sem a participação do Kinea. A expectativa é que esse negócio seja fechado no início de 2012.

Além de aquisições, os laboratórios nacionais estão priorizando acordos para produção de medicamentos. A Eurofarma, que em 2011 associou-se à Cristália, para a criação da Supera, empresa criada para comercializar medicamentos maduros de ambos os laboratórios, está de olho em ativos fora do Brasil, sobretudo na região do Mercosul. No mercado interno, a companhia deverá fechar nos próximos meses acordo de licenciamento para produzir medicamentos de grandes farmacêuticas, segundo apurou o Valor.

Uma das maiores farmacêuticas do país, a EMS, de Hortolândia (SP), vai continuar seu plano de expansão em 2012, mas a prioridade será o crescimento orgânico. O grupo deverá definir nos próximos meses a construção de mais duas fábricas no país – uma em Jaguariúna (SP), para produzir suplementos alimentares, no valor de R$ 30 milhões, e outra em Brasília, com aportes de cerca de R$ 150 milhões, para antibióticos e hormônios. A companhia já deu início este ano às obras de sua nova fábrica em Manaus, em uma estratégia para avançar no Norte do país, e uma unidade de embalagens em Hortolândia, ao lado da sede da companhia.

O laboratório nacional Aché, que adiou os planos de abrir capital em 2011 e está na expectativa de melhora do mercado de capitais a partir de 2012, também está de olho em novas oportunidades de negócios. O grupo estava na disputa para levar a Mantecorp, mas foi desbancado pela Hypermarcas. Uma possível associação com a GlaxoSmithKline (GSK) também não foi levada adiante, mas a companhia está de olho em oportunidades de expansão no mercado nacional.

A Biolab também quer ampliar seu portfólio de produtos e deverá intensificar acordos, a exemplo da joint venture criada em 2010 com a alemã Merz para atuar em toxina botulínica no Brasil. Em 2011, três dos quatro sócios da Biolab criaram a Avert, laboratório voltado para a classe C. Essa nova empresa adquiriu a companhia Zurita, de Araras (SP), cujo carro-chefe na produção é a linha Acnase (combate acne). A Avert é o braço farmacêutico popular dos irmãos Cleiton de Castro Marques e Paulo de Castro Marques, e do empresário Dante Alário Júnior.

O ano de 2012 será um ano de expansão para o setor, mas não no mesmo ritmo de crescimento observado nos últimos anos, afirmou ao Valor Nelson Mussolini, diretor-executivo do Sindusfarma (Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo). “O setor cresceu o dobro do PIB nos últimos cinco anos. Vamos continuar crescendo, mas em ritmo menor”, disse. O segmento de genéricos, que representa cerca de 25% do faturamento do setor, continuará puxando o crescimento do setor.

“Com o dólar valorizado sobre o real, próximo a R$ 2, aumento das importações, além da pressão do reajuste salarial, as indústrias deverão registrar queda de rentabilidade”, afirmou Mussolini. Com a queda da rentabilidade, os descontos concedidos pelas farmacêuticas deverão se reduzir. Por Mônica Scaramuzzo
Fonte:valor04-01-2012