País mantém patamar em comparação ao mesmo período de 2021, porém volatilidade e incertezas globais e internas já impactam no número de operações. Junho foi o 4º mês consecutivo com redução no número de transações anunciadas. Perspectiva agora é para recuperação em 2023.

Diversos fatores originaram a crise econômica que, local e globalmente, estamos enfrentando. Após um período complexo causado pela pandemia da COVID-19, temos hoje, dentre outras situações, a guerra provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia, a quebra de cadeias de fornecimento e a inflação na casa dos dois dígitos (e consequente aumento de taxa de juros básicas). Internamente, o contexto político e a constante exposição negativa do país ao exterior (por exemplo em questões ambientais), causa aumento de ruídos e desafios aos investidores. São incertezas globais, combinadas com um cenário interno extremamente desafiador, que afetaram o volume de operações. O mercado de capitais também ficou restrito, com menor liquidez e registrando apenas seletivos follow-ons, de operações maduras e em setores mais resilientes.

Atividades de fusões e aquisições (M&A em inglês) – que na pandemia apresentaram um crescimento e volumes recordes de operações, tanto no Brasil, como no mundo – começa a dar sinais de desaceleração neste primeiro semestre de 2022. Ainda no mesmo patamar do mesmo período do ano anterior, tivemos 735 transações anunciadas no país nos meses de janeiro a junho. Em 2021, foram 752 operações, uma queda de apenas 2,3%.

Em 2020, o Brasil registrou 1.100 transações, e em 2021, 1.627 com um crescimento de 48% no auge da pandemia (movimento este de expressivo crescimento de números de operações foi registrado globalmente, principalmente em setores relacionados à tecnologia e suas verticais). Neste mês de junho, 94 transações foram anunciadas no Brasil, o que representa 19,6% de redução em relação ao mesmo mês do ano anterior (117). Os setores de maior atividade continuam sendo associados, direta ou indiretamente, à tecnologia, serviços financeiros (onde tecnologia também está fortemente presente), serviços B2B e B2C, logística, energia e produtos de consumo. Destaque também aos setores de educação e saúde, que continuam em movimento de consolidação. Observamos uma retração das atividades de M&A no setor de varejo.

Investidores estratégicos continuam liderando o número de transações anunciadas, estando presentes em mais de 65% das operações do período. As 20 maiores operações de M&A anunciadas no primeiro semestre somam R$ 61,6 bilhões.

O mercado de capitais não registrou nenhuma abertura de capital (IPO) com apenas 11 operações de follow-on (sem contar privatização da Eletrobras), movimentando cerca de R$ 13,5 bilhões. Estes volumes e valores são marginais quando comparados aos realizados em 2021, que registrou um recorde de operações de 70 IPOs e follow-ons e movimentação de R$ 130 bilhões. Empresas novatas tiveram maiores desafios, em um momento de correção global de preços – as empresas de tecnologia e de varejo foram as mais afetadas. Privatizações e concessões continuam na pauta do governo com o Programa de Parcerias de Investimento e as PPPs, em uma combinação de recursos com a iniciativa privada para investimentos em necessidades estruturais do país.

Dentre os follow-ons deste ano, destaque às operações da BRFSA (Alimentos) de R$ 5,4 bilhões, da Equatorial Energia (Energia) de R$ 2,8 bilhões, da Alpargatas de R$ 2,5 bilhões e da Arezzo (Produtos de Consumo) de R$ 0,9 bilhão, da CBA (Mineração) de R$ 1 bilhão, da Fras-Le (Indústria) de R$ 0,7 bilhão e da CVC (Turismo) de R$ 0,4 bilhão.

Incerteza é tudo que o investidor não quer. Os fatores mencionados, de impacto doméstico e global, com seus efeitos em preços de commodities e nas cadeias de fornecimento, acentuados por desafios internos do país, em mais um ano marcado por interferências e ruídos criados em períodos de eleição presidencial, causam esta incerteza e consequente incerteza.

Olhando para 2023, quando algumas destas variáveis estarão mais esclarecidas e, muito provavelmente, o país terá menos “ventos contrários”, a perspectiva é da retomada de atividades, mesmo com investimentos que continuarão seletivos.

Os dados demonstram que os investidores nacionais continuarão, junto com investidores estrangeiros que já conheçam o Brasil, ativos em processos de M&A – enquanto entrantes irão aguardar um cenário mais claro para definir uma estratégia de investimentos de longo prazo. Por Alexandre Pierantoni, Managing Director de Corporate Finance da Kroll.

Com informações da Ketchum