Há pouco mais de um mês, Alfredo Setubal fez uma proposta a duas de suas investidas no mercado de livros. Enquanto a Dois Pontos avançava na venda de livros on-line mas patinava no clube de assinaturas, a TAG surfava essa comunidade de leitores, mas queria crescer em volume de outros títulos. “Por que não se unem?”, propôs Setubal.

Foi daí que nasceu a fusão entre TAG e Dois Pontos, que acaba de ser anunciada pelas companhias. Setubal é do grupo de investidores estruturado já na fundação da paulistana Dois Pontos, em 2021. “É um grupo bem diverso de investidores, de entusiastas da leitura”, diz Ana Paula Rocha, diretora de operações. Já na gaúcha TAG, que fez o caminho inicial com capital próprio, Setubal entrou como investidor numa primeira captação com terceiros há três anos.

“Nosso investidor olhou para as duas companhias e falou: estou vendo ali um desafio em algo que vocês estão indo bem, e aqui um caminho que ainda não se desenvolveu como lá”, conta Rocha. A aproximação foi rápida, pelo alinhamento de visão do mercado e como abordá-lo.

TAG + Dois Pontos: um M&A de livros costurado por Alfredo Setubal

Ela e a sócia Ciça Pinheiro vieram do mercado editorial – quando uma saiu da editora Todavia (onde Setubal também investiu) e a outra da Editora Zahar, uniram-se ao grupo de investidores para criar a Dois Pontos. “Víamos muito essa mudança do mercado, com a crise das livrarias afetando as editoras, e começamos a pensar no que seriam esses novos canais”, diz Pinheiro, diretora de marketing e comunicação. “Queríamos uma livraria que trabalhasse com conteúdo, que reproduzisse a leitura por indicação de um amigo, e vai muito de encontro à criação de comunidade feita pelo Gustavo.”

Gustavo Lembert criou o clube de livros com dois amigos, em 2014. Em menos de três anos, já passava de 10 mil associados. “O que a gente queria era trabalhar a experiência, por isso estruturamos o clube do livro com o papel de curador, com coleções exclusivas e esse cuidado de como ele chega até a casa dos assinantes”, diz o CEO da TAG. “Nosso papel é fazer as pessoas lerem mais, mas tirando o livro desse pedestal que a academia e o próprio mercado editorial colocam.”

Além dos clubes, a TAG também lançou recentemente o aplicativo Cabeceira, um assistente pessoal de leitura, como outros feitos para meditação ou corrida, organizando as listas do que o usuário pretende ler, comentários sobre livros passados, metas de leitura semanal, por exemplo.

As duas companhias devem somar neste ano um faturamento de R$ 38 milhões, com objetivo de subir para R$ 45 milhões no ano que vem. A TAG, hoje com 32 mil assinantes, já opera no positivo, enquanto a Dois Pontos vinha numa estratégia ainda de queima de caixa por crescimento, por ter menos tempo de operação. A companhia tem cerca de 1,5 mil pedidos por mês na livraria on-line. “Queremos ter a maior comunidade leitora do Brasil”, diz Pinheiro.

Os sócios destacam que, em oposição ao que aconteceu nas redes físicas de livrarias, o período da pandemia trouxe uma valorização da leitura, com um aumento de interesse também em novos autores. “A crise foi das livrarias, não dos livros”, diz …… leia mais em Pipeline 16/08/2023