Mesmo com o crescimento das incertezas fiscais domésticas e um cenário desafiador para a economia global à frente, analistas enxergam espaço para que o Ibovespa registre ganhos consideráveis em 2023. Para justificar as expectativas, os agentes citam, entre outros fatores, os preços atrativos das ações locais, a possibilidade de início do processo de corte dos juros e a reabertura da economia chinesa.

Para o fim de 2023, a média das projeções de 21 instituições financeiras consultadas pelo Valor estima que o índice chegue a 126.700 pontos – para alcançar essa pontuação, precisaria subir 17,9%. Já a mediana das estimativas é de 128 mil pontos, o que implica em alta de 19,1% no próximo ano. As projeções variam de 109.700 pontos, que representaria uma leve alta de 2,1%, até 150 mil pontos, o que significa avanço de 39,6%.

O índice fechou o pregão de ontem a 107.433 pontos, tendo pouco subido neste ano (apenas 2,49%), apesar da volatilidade elevada. O cenário conturbado fez, inclusive, com que bancos importantes como Bradesco BBI, Itaú BBA e Santander não atualizassem suas projeções para o ano que vem até o momento. O Ibovespa chegou a ultrapassar os 120 mil pontos nas máximas de 2022 e a perder os 100 mil pontos nas mínimas. Especialistas afirmam que o fator determinante para o desempenho da bolsa em 2023 será a trajetória dos juros.

Previsão para a bolsa é de alta em 2023

Ruídos fiscais

Para o economista-chefe de América Latina da Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, os ruídos fiscais já eram esperados após a eleição. No entanto, a deterioração das expectativas macroeconômicas por conta da perspectiva de ampliação dos gastos e da formação da equipe econômica do governo eleito fez com que os riscos crescessem. “Como os riscos aumentaram, estamos inclinados a esperar para ver o governo eleito em ação. Pelo que já vimos no passado, acreditamos que o Lula vai perceber a importância de uma agenda fiscal sustentável”, afirma. A casa enxerga o Ibovespa com 128 mil pontos ao fim de 2023 e a Selic em 9,5% no mesmo período.

David Beker, chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America, afirmou em encontro com jornalistas que, no seu cenário mais pessimista, o Ibovespa encerra o próximo ano aos 95 mil pontos. Mas, para isso, o aumento de gastos precisaria vir acompanhado da falta de âncora fiscal, o que, na sua visão, não parece ser uma previsão apropriada até aqui. Ele manteve, assim, o preço-alvo de 135 mil pontos para o índice local.

Juros maiores e por mais tempo

Já a Genial projeta juros maiores e por mais tempo no ano que vem, limitando a performance do índice a 109.700 pontos no fim do ano que vem. “Achamos que haverá uma política fiscal mais frouxa, e isso fará com que seja necessária uma política monetária mais dura”, diz Filipe Villegas, estrategista de ações da corretora. Antes das eleições, a casa esperava queda de juros em 2023, mas agora prevê uma taxa Selic entre 14% e 15%.

Para Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos e dono da projeção mais otimista da pesquisa (150 mil pontos), o cenário não é suficiente para rever seus cálculos. “A deterioração até agora não foi por causa de fundamentos, e sim pelo aumento das incertezas”, diz. Outro argumento para explicar a projeção da casa é que os múltiplos da bolsa estão deprimidos. “A relação preço/lucro está muito baixa. Um dos motivos para estar assim é que os juros subiram muito, mas, presumindo que cairão, essa relação pode ser maior.”

Villegas, da Genial, também vê múltiplos baratos, mas afirma que isso se justifica pela falta de perspectiva de crescimento econômico sustentável nos próximos anos.

A mesma dúvida acerca do efeito da política monetária na atividade econômica vale para o exterior. Siqueira diz que mesmo se os EUA entrarem em recessão, o pior momento seria o começo do ano e que a desaceleração provavelmente seria mais moderada.

Economia americana: chance de recessão

Abadia, da Pantheon, também diz acreditar que a economia americana terá recessão leve e, com a inflação recuando rápido, o mercado poderá voltar a subir no segundo semestre. “Mas os riscos aumentaram. Já em termos de China, a confirmação do movimento de reabertura deve ajudar a América Latina e as commodities, com o governo chinês mantendo papel importante no estímulo da economia, mesmo que haja mudança na política de crescimento”, afirma.

Em relação ao país asiático, Villegas diz que o relaxamento de restrições impostas para combater a covid-19 deve acontecer e pode ser benéfico, mas o impacto positivo deve ser principalmente para commodities agrícolas e petróleo. “No caso de metálicas e siderurgia, existe avanço, mas mais modesto”… leia mais em Inteligência Financeira 22/12/2022