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O avanço tecnológico, sobretudo na área de inteligência artificial, e as mudanças no comportamento de compra trouxeram transformações para o mercado de trabalho – o que tem movimentado a busca pelas “habilidades para o futuro” no setor de educação. Depois de alguns movimentos em grandes conglomerados, 2023 ficou marcado como a vez das redes de franquia de ensino, que protagonizaram ao menos quatro movimentos de fusões e aquisições nesse segundo semestre. Especialistas apontam que a tendência é que isso se intensifique em 2024.

Empresários e redes tradicionais do segmento, como Carlos Wizard Martins, Centro Britânico e a rede CNA, que se especializaram em apenas uma disciplina ou um conjunto de temas, movimentaram-se para buscar negócios complementares no mercado ou aumentar a própria capacidade de oferecer mais opções para o aluno.

Rogério Gabriel, diretor-adjunto de planejamento estratégico da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e diretor da comissão de educação da entidade, diz que as redes passaram por intensas transformações ao longo de 2020 e 2021, que as obrigaram a “olhar para dentro” e entender como deveriam se transformar para o novo cenário, além da inclusão das aulas online.

Fusões e aquisições aceleram no setor de franquias de educação

As franquias de educação começaram a observar quais oportunidades não estavam sendo capturadas, como poderiam captar mais alunos, quais serviços poderiam agregar, qual tipo de produto essa marca entrega e como poderia melhorar”, diz.

No terceiro trimestre de 2023, as redes de serviços educacionais faturaram R$ 3,7 bilhões, um crescimento de 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado – um avanço abaixo da média do franchising geral, que foi de 11,4%. A maior parte das escolas consultadas ainda não recuperou o número de alunos de 2019.

“Os resultados estão iguais ou maiores do que em 2019, mas, ao mesmo tempo, não dá mais para entregar a mesma coisa para o aluno que saiu na pandemia e voltou agora. O cliente viveu experiências diferentes e pede por entregas diferentes e melhores”, diz Gabriel, que também é CEO da MoveEdu, holding que abriga redes como Prepara Cursos e Microlins.

Aumento de portfólio

Oferecer novas possibilidades para o aluno foi o que motivou a Happy (ex-Happy Code) a adquirir a rede tradicional de ensino de idiomas Centro Britânico. O anúncio foi antecipado por PEGN no último mês de agosto.

Otoniel Reis, COO da Happy, conheceu Bruno Gagliardi, então CEO do Centro Britânico, em um evento do setor. “A Happy tinha crescido muito em 2019, mas ainda faltava algo. A pandemia nos permitiu olhar para o negócio e entender que programação era apenas um meio para desenvolver a habilidade dos jovens, e não o fim”, contou Reis a PEGN.

Na ocasião, William Matos, CEO do Grupo Happy, disse que o movimento se deu pela necessidade de oferecer ensino de inglês para os alunos que já buscavam a rede para formação em educação financeira e oratória, além de programação. Gagliardi continuou na operação e as novas escolas passaram a ser inauguradas com as duas marcas.

Cerca de dois meses depois, a Supergeeks, concorrente direta da Happy, anunciou a aquisição de outra escola de programação, a CodeBudy, que era do grupo Gera, de Jorge Paulo Lemann. O curso e a metodologia da antiga rede passaram a ser incorporados à grade, e o foco é o posicionamento da rede como um “hub de educação de competências do futuro”. Até o final de 2024, a projeção é de aumentar em 50% o número de franquias.

Outra rede tradicional que se movimentou nesse sentido foi o CNA, especializada em ensino de idiomas há mais de 50 anos, que comprou a rede de programação e robótica para crianças, a CTRL+Play. De acordo com comunicado enviado pela rede, o plano, em um primeiro momento, é vender franquias da nova rede para os atuais franqueados instalarem a escola no mesmo espaço.

Capilaridade

O advogado empresarial Leonardo Roesler diz que, além da necessidade de adaptação tecnológica e diversificação do portfólio, as fusões e aquisições no segmento têm o objetivo de ajudar empresas mais capitalizadas a ganhar escala com mais facilidade, um trunfo das redes. “Franquias educacionais estabelecidas, muitas vezes com forte presença em mercados locais ou regionais, tornam-se alvos atraentes para conglomerados educacionais que procuram ampliar sua presença global”, diz.

Essa foi a razão pela qual a Atom S/A, da empresária Carol Paiffer, anunciou a aquisição de 51% da rede de franquias Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), especializada em ensino profissionalizante, em novembro. De acordo com a marca, o objetivo é aumentar a capilaridade presencial da Atom por meio das 80 unidades físicas do Cebrac. Segundo afirmou Rogério Silva, CEO da rede de ensino, em comunicado enviado à imprensa, para os franqueados “a melhoria se dará na expansão do digital”. O Cebrac faturou R$ 140 milhões em 2022.

O empresário Carlos Wizard Martins foi outro que movimentou o mercado nos últimos meses. Ele comprou 50% da rede Enjoy, focada no ensino de idiomas e cursos profissionalizantes para as classes C e D. A empresa foi fundada pelos empreendedores Denis Sá e Oswaldo Segantim Junior e tem pouco mais de 100 unidades em funcionamento, além de 100 negociadas.

Com a compra, Martins constituiu o Grupo Wiz, que abarca a marca Mister Wiz, lançada para o mercado no ano passado, com o objetivo de ensinar empreendedorismo para crianças e adolescentes, e a Enjoy, que prepara jovens para o mercado de trabalho. Juntas, as duas escolas têm 310 unidades, entre abertas e negociadas. O valor da compra da Enjoy não foi revelado, mas o grupo prevê um faturamento acumulado de R$ 100 milhões nos próximos três anos.

O movimento acontece exatos dez anos após a venda do Grupo Multi para a britânica Pearson em 2013, por R$ 1,7 bilhão. Em entrevista a PEGN, o empresário diz que o objetivo é, de fato, repetir o que ele conseguiu com o Grupo Multi, quando viveu seu auge como empresário. Na época, ele chegou a realizar dez aquisições, que somaram 3 mil escolas.

“A Mr Wiz tem como estratégia seguir o mesmo caminho que deu certo lá. Fizemos a primeira aquisição e vamos continuar de olho no mercado”, afirma. No entanto, o panorama do segmento de educação é diferente de quando ele formou o Grupo Multi, ao longo dos anos 2000. “Hoje o aluno ou o pai não busca uma matéria só, como o inglês. Busca algo multidisciplinar, que o prepare para o futuro”, afirma.

Martins se aproximou dos fundadores da Enjoy em 2020, durante a pandemia, quando a esposa de Denis, Priscila Sá, o convidou para iniciar uma série de lives com o tema “fé, família e prosperidade”. O ciclo de lives se estende até hoje…. leia mais em PEGN 07/12/2023