Somente nos 4 primeiros meses de 2023 foram 8 transações, praticamente o mesmo número de 2022; até 2050, metade da população brasileira será míope.

Embora o ritmo de fusões e aquisições tenha diminuído no Brasil no primeiro semestre, alguns setores vêm apresentando crescimento. Em saúde, enquanto operações envolvendo hospitais, oncologia e clínicas de diagnóstico e imagem sofreram retração, o segmento de oftalmologia, que fatura cerca de R$ 10 bilhões por ano, é novidade que atrai a atenção. Dados da OMS mostram o potencial e a importância da expansão: 50 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de distúrbio da visão e, até 2050, pelo menos 50% da população será míope.

Lideradas por fundos de investimento, principalmente XP e Pátria, e, em menor grau, pelo grupo de saúde Fleury, foram realizadas pelo menos 45 transações no setor de oftalmologia desde 2015 até abril deste ano. Desse total, 30 ocorreram a partir de 2021, representando média de mais de uma aquisição por mês.

A grande fragmentação do mercado de clínicas e hospitais nesta especialidade favorece o processo de consolidação. Ricardo Bahiana, sócio da assessoria B2R Capital, especializada em M&A e valuation, ressalta que esse movimento aumenta a competitividade e impacta positivamente a qualidade do atendimento, a infraestrutura e as práticas de gestão.

“Essa consolidação traz benefícios para os médicos, com implementação de melhores práticas de atendimento, melhorando a jornada do paciente. Gera valor para o gestor, com a centralização de processos e ganhos de eficiência e rentabilidade. E, além disso, gera valor para os investidores, que ajudam na governança, na definição da estratégia e claro, na alocação de capital”, diz.

Somente de janeiro a abril de 2023 foram anunciadas oito transações na área de oftalmologia, contra quatro no mesmo período do ano passado. Ou seja, nos quatro primeiros meses de 2023, o número de operações anunciadas dobrou, e quase igualou o total de todo o ano de 2022 – quando 10 transações foram anunciadas.

Em 2015 e 2016, houve apenas uma operação em cada ano; em 2017, foram quatro transações; em 2018, somente uma; em 2019, duas. A partir de 2020, quando ocorreram seis operações, os números aumentam. Em 2021, foram 12; e, em 2022, 10.

Outros benefícios do processo de consolidação são o desenvolvimento de tecnologia e inovação, investimentos em escala para aquisição de equipamentos de ponta para a realização de exames mais complexos e a educação médica continuada – aspectos que são potencializados quando se tem uma rede de clínicas, destaca Bruno Jucá, também sócio da B2R Capital.

Mais um aspecto que atrai a atenção dos investidores e favorece o movimento de M&A em oftalmologia é o grande número de consultas, exames e cirurgias de baixa complexidade, que podem ser feitas em clínicas de menor porte e trazem um grande fluxo de pacientes para os centros médicos. E o potencial é de alta: o Brasil realiza três cirurgias de olhos por 1.000 habitantes, enquanto que, nos Estados Unidos, a média é de 10.

Ao mesmo tempo, o Brasil conta com mais de 20 mil médicos oftalmologistas – o que representa 99 especialistas por grupo de milhão de pessoas – e há mais de 5 mil clínicas e hospitais oftalmológicos no país. Outras especialidades que estão movimentando o mercado de saúde são ortopedia, nefrologia e reprodução.

Fundos no leme

Se na área de hospitais, oncologia e clínicas de diagnóstico e imagem os grandes grupos de saúde capitanearam as aquisições, com a oftalmologia a onda está sendo liderada por fundos.

O Pátria, por meio do Grupo Opty – atualmente o maior grupo de atendimento oftalmológico da América Latina – foi o pioneiro no processo de consolidação, com pelo menos 20 transações anunciadas desde 2015.Opty adquire SEOPE
A XP por sua vez, é o que está mais ativo no momento, com pelo menos 16 transações nos últimos três anos, seguido do Pátria, com sete transações anunciadas no período, e do Fleury, com dois anúncios.

Outros movimentos foram realizados por fundos de venture capital como VOX Capital, Gávea Angels, Hangar 8 Capital e 4am Capital. E os números tendem a crescer, pois os grandes players do mercado apostam na entrada em capitais onde ainda não operam.

“É um movimento no qual é preciso fazer um alto volume de aquisições, além de um forte trabalho de integração. O desafio é maximizar os benefícios operacionais e financeiros sem abrir mão da qualidade. O mercado de private equity brasileiro está maduro o suficiente para entender que o retorno precisa ser sustentável, ainda mais na área da saúde”, diz Bahiana.

A B2R Capital é uma assessoria especializada em fusões e aquisições e valuation, com sede no Rio de Janeiro.

Com informações da LAM Comunicação 22/08/2023