O mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), em passos lentos no Brasil, teve em 2023 seu pior início de ano desde 2020, período fortemente afetado pelo choque deflagrado com o início da pandemia de covid-19. Segundo dados da consultoria Dealogic, levantados a pedido do Valor, o volume financeiro das transações até maio somou US$ 6,1 bilhões, queda de 73% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2020 o valor movimentado no mesmo intervalo foi de US$ 5,7 bilhões – montante que também havia se retraído 67% em relação mesmo período de 2019.

No entanto, apesar do início de ano morno e com poucos negócios, o setor começou a dar os primeiros sinais de recuperação. A expectativa de banqueiros de investimento é de uma melhora da atividade ao longo dos próximos meses, o que poderá impulsionar o volume para próximo de 2022, quando essa indústria movimentou mais de US$ 50 bilhões. Um dos suportes para a retomada, segundo especialistas, será a venda de ativos em dificuldades, como já noticiou o Valor. São os casos da Americanas e da Unigel, entre outros.

Até agora, em 2023, houve poucas operações anunciadas na casa de “bilhão de dólares”. Porém, as transações mais recentes anunciadas começam a mostrar esse perfil, num sinal de alguma retomada da atividade. A venda da Aesop pela Natura, que na prática não se trata de um ativo brasileiro, e a oferta de aquisição de ações (OPA) da EDP Brasil pela sua controladora, que decidiu fechar o capital da subsidiária local, processo que ainda está em curso. Outra grande transação foi entre a Neoenergia e o GIC, fundo soberano de Cingapura, que se tornou acionista da empresa com uma fatia de 50%, por R$ 1,2 bilhão.

Após começo de ano fraco fusões e aquisições dão sinais de melhora
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Em maio, um movimento importante foi a venda da operação da Liberty na América Latina para a seguradora HDI, de cerca de R$ 7 bilhões. Outro negócio que acaba de ser anunciado e deverá entrar na conta dos M&As do ano é o investimento do fundo soberano árabe Salic na BRF, ainda não concretizado. Uma das transações com potencial de ser uma das maiores do anos é a venda da elétrica Coelce, que pode movimentar R$ 8 bilhões.

Segundo especialistas, o menor número de anúncios de M&As tem por trás um conjunto de fatores, algo historicamente esfria o mercado, e eventos corporativos que travaram o mercado de crédito – Americanas e Light. No entanto, a fila de transações com bancos que têm mandatos para tocar as operações segue intacta, e a diminuição do número de transações anunciadas reflete um efeito direto do aumento da volatilidade: elas estão levando mais tempo na mesa de negociação.

O sócio do BTG Pactual e responsável pela área de M&A, Bruno Amaral, destaca que o início de ano mais fraco reflete diretamente uma desconexão de “timing”. Isso porque as conversas entre vendedores e compradores estão levando mais tempo diante do atual contexto de mercado. Segundo ele, o normal é que uma discussão de M&A leve de nove meses a um ano entre o inicio do engajamento do assessor financeiro e o anúncio da operação, na média. Hoje, contudo, esse prazo está levando de um ano a 14 meses. “Mas não estou vendo uma diminuição do ‘pipeline’ [operações em preparação]”, afirma.

Amaral diz que já observa, neste momento, uma aceleração do ritmo das negociações, algo que deve começar a refletir no volume de anúncios realizados. “Acredito que começamos a verificar um ambiente mais previsível e vejo se criando um ambiente mais propício.”

O chefe do banco de investimento do Citi, Eduardo Miras, afirma que o início do ano reflete uma safra de M&A mais fraca, com investidores mais cautelosos na hora da tomada de decisão. “Os debates estão mais longos”, diz. … leia mais em Valor Econômico 13/06/2023