A Loft anunciou há pouco, em um encontro com imobiliárias, a integração de suas marcas. Credihome, Vista e CredPago dão lugar à marca principal em cada segmento – esta última, por exemplo, vira Loft Fiança Locatícia e é um bom exemplo da revolução do negócio nos últimos dois anos. Se uma das referências do consumidor no tema é o QuintoAndar, a Loft já é maior que a concorrente no produto.

A QuintoAndar tem 265 mil contratos de locação administrados, nem todos com a fiança locatícia, enquanto a Loft informa que atingiu 300 mil contratos de fiança locatícia, passando a Porto em novas emissões. A CredPago foi a maior aquisição da Loft, uma transação de R$ 3,5 bilhões em 2021. Parecia um negócio complementar e caro, mas que ganhou cada vez mais espaço à medida que as vendas diminuíram, a demanda por aluguel aumentou e a Loft ajustou seu posicionamento junto às imobiliárias, tornando-se uma operação B2B com algum remanescente em B2C.

“Ganhou relevância na composição de receita, impulsionado por capilaridade”, diz Mate Pencz, fundador da Loft, ao Pipeline. A agora Loft Fiança Locatícia está em mais de 800 cidades brasileiras – capilaridade que só os três maiores bancos do país têm.

A Loft segue sem abrir cifras do balanço, mas Pencz adianta que fechou o primeiro trimestre com crescimento de 30% da receita líquida consolidada. O lucro bruto no bimestre saltou 60% e o indicativo é que março seguiu o ritmo – mas já marcou os três primeiros meses seguidos de resultados positivos na empresa, já que dezembro foi o mês de ponto de equilíbrio (breakeven).

“Vemos retomada no contexto micro e macro, com a queda de juros chegando aos poucos nas taxas dos bancos e no volume de aprovações de financiamento, assim como na demanda de home equity. É uma retomada ainda tímida mas consistente do mercado imobiliário”, avalia. “A fatia da fiança locatícia ficou maior no nosso bolo, mas o nosso business de financiamento já voltou acima do all time high, que havia sido no final de 2021. A nossa abordagem é cada vez mais ser uma ‘all weather company’, uma empresa para todos os climas.”

O rebranding do portfólio quer aproveitar esses novos ventos, já que a integração operacional das aquisições já foi concluída. A Loft entende que, além do reforço institucional, com ‘go to market’ mais coeso, a integração também vai simplificar os pontos de contato dos corretores, que hoje lidam com os agentes de cada marca. “Esse é um tiro importante para 2024 e 2025. Nosso cross sell cresceu 70% e unificando as marcas vemos mais uma alavanca”, diz Pencz.

A proptech trocou de agência de publicidade para a campanha, agora com a B&Partners, e contratou a agência Vertem para ajudar no desenvolvimento do programa de fidelidade com as corretoras – quanto mais volume com a Loft e uso das diferentes ferramentas da empresa, maior o benefício seja em comissionamento ou em campanhas de marketing. A Loft ttrabalha com uma rede ativa de 8,5 mil imobiliárias, cerca de 20% do mercado, que é estimado na ordem de 50 mil imobiliárias.

A companhia também tem aumentado investimentos em tecnologia e o uso de inteligência artificial é um dos ganhos de eficiência que ajudaram a companhia a sair do vermelho. “Conseguimos crescer a taxas expressivas com o mesmo tamanho de time porque ficamos mais eficientes e também por ferramentas de Copilot”, diz Pencz.

A IA está nos processos internos, na precificação, no contato com os clientes e no aperfeiçoamento de buscas. “Você pode solicitar na busca a lista de imóveis com azulejo azul no banheiro”, exemplifica o empreendedor sobre o que já está em funcionamento, com aplicações semânticas e leituras de imagem que já eliminavam a duplicidade de anúncios.

A Loft segue crescendo num ritmo considerável, dada a escala que ganhou – ainda que o ritmo seja menor que no passado recente –, mas sem mais deixar de lado a preocupação com rentabilidade. A virada de chave impôs uma mudança cultural na companhia, “É uma cultura de ambidestria, que não estava presente. Tínhamos que focar apenas em crescimento, agora temos garantir a tarefa x e executar a y ao mesmo tempo. Trocamos de pele.”

Pencz faz uma observação curiosa sobre a retomada do mercado de tecnologia e apetite dos investidores de venture capital. “Há uma pressão maior por crescimento sustentável do tipo: ‘me fala quanto você consegue crescer sem queimar dinheiro?’. É diferente do crescimento a qualquer custo mas também é diferente de dar o máximo de lucro possível”, diz. “Me surpreendi o quão rapidamente os investidores estão satisfeitos com o breakeven, eu imaginava uma fase mais prolongada de pressão por otimização de lucro”, emenda, ao falar sobre o mercado de forma geral, não especificamente sobre a Loft.

A companhia até voltou a contratar – depois de centenas de demissões para ficar de pé, abriu 40 vagas. Pencz considera até voltar a fazer aquisições. “Há categorias de produtos que ainda não atuamos e podemos agregar, subsetores que podemos continuar consolidando também por expansão inorgânica. Não fizemos M&A em 2023, mas vamos olhar essa agenda mais proativamente em 2024” leia mais em Pipeline 10/04/2024