As estratégias de fusões e aquisições (M&A, do inglês, Mergers & Aquisitions) têm sido aplicadas pelas organizações não somente para acelerar o crescimento ou conquistar mercado, mas também como oportunidade de acessar novas tecnologias e soluções inovadoras. Além disso, visam ampliar a eficiência e atrair talentos especializados, elementos essenciais para otimizar a eficiência operacional, reduzir custos e diversificar o portfólio.

A pandemia da Covid-19 impulsionou a necessidade de rápida adaptação das organizações em direção à digitalização e a eficiência operacional. Como resultado, as parcerias e alianças com startups e empresas de tecnologia e inovação cresceram, contribuindo para o aumento significativo no número de operações de M&A durante o período. Os números recordes em valor e volume de transações de M&A no Brasil, em 2021, foram influenciados pelo cenário de taxas de juros historicamente baixas e alta liquidez a nível mundial, resultado das medidas econômicas que possibilitaram a continuidade das atividades empresariais durante a pandemia.

No entanto, a partir do final de 2021, a volatilidade no ambiente macroeconômico, juntamente com os novos desafios no ambiente de negócios global, como guerras e barreiras comerciais entre as principais economias, interromperam o ciclo de alta liquidez. Esse cenário, aliado à trajetória ascendente das taxas de juros, refletiu nas decisões empresariais ao longo de 2022, resultado em uma redução nos números de transações em comparação ao ano anterior. A maior cautela dos investidores persistiu até 2023, com as transações de M&A ainda abaixo dos níveis de 2021, mas gradualmente se aproximando dos patamares pré-pandêmicos.

M&A tem papel estratégico e transformador no cenário empresarial brasileiro

A partir do estudo “O futuro estratégico das fusões e aquisições no Brasil: M&A como impulso à transformação”, recentemente divulgado pela Deloitte, observa-se a intenção das organizações de retomar as operações de M&A. No entanto, observa-se uma maior consciência da importância de estar devidamente preparado para compreender os riscos e capturar os valores esperados nas transações.

É interessante destacar que, entre as empresas participantes do estudo da Deloitte, 33% conduziram operações de M&A nos últimos cinco anos. Dessas, 64% têm planos de realizar novas fusões e aquisições até 2028, evidenciando o sucesso das estratégias adotadas. Os líderes dessas organizações apontam que a busca por sinergia, expansão de mercado e eficiência operacional são os principais impulsionadores que os motivam a investir em operações dessa natureza.

No extremo oposto, entre as empresas que não conduziram operações nos últimos cinco anos, mais da metade acredita que suas organizações ainda não estejam preparadas. Isso destaca a necessidade de uma abordagem organizada e estruturada, com o apoio de soluções e profissionais capacitados. Estas empresas são predominantemente de capital fechado (88%), e possuem faturamento de até R$ 500 milhões (79%).

Assim, o estudo fornece um indicativo claro de que o êxito nas operações de M&A demanda uma preparação meticulosa e uma execução estratégica. Os principais obstáculos apontados incluem as complexidades jurídicas e operacionais associadas a uma fusão e aquisição. Além disso, destaca-se a preocupação com a integração das culturas das empresas envolvidas e a mensuração inadequada de sinergias.

Por outro lado, quando bem-sucedidas, as operações de fusões e aquisições tornam-se grandes aliadas dos objetivos estratégicos das organizações, conforme destacado por 57% das participantes que realizaram M&A nos últimos anos e alcançaram seus objetivos pretendidos.

Desta forma, é possível afirmar que as operações de M&A não apenas impulsionam o crescimento, mas também moldam o futuro das organizações. Portanto, é crucial que seus líderes não abdiquem dos benefícios dessas operações e considerem a inclusão de M&A em seus planos de negócios, mantendo um planejamento atualizado e robusto que não permita que percam importantes oportunidades.

A boa notícia é que existem ferramentas cada vez mais modernas para auxiliar as empresas que ainda se sentem inseguras diante da complexidade de uma operação de M&A a superarem a lacuna que as separa daquelas empresas que já se beneficiam dessa importante ferramenta transformacional. A primeira destas ferramentas é o uso da tecnologia.

O estudo da Deloitte mencionado revelou que 61% das organizações já estão utilizando técnicas para extrair insighs a partir de informações, conhecida como “Analytics”, ou mesmo Inteligência Artificial (IA), para impulsionar suas operações. No entanto, essa inserção tecnológica pode ser mais explorada, especialmente na fase de precificação dos alvos das operações, etapa para a qual apenas 18% aproveitaram as ferramentas de IA ou Analytics. Esta representa uma oportunidade significativa para as organizações ganharem eficiência e precisão no processo de M&A.

A segunda ferramenta destacada na pesquisa é a chamada Due Diligence, ou seja, os processos de investigação e análise rigorosos realizados antes de uma transação que visam avaliar a empresa alvo da aquisição quanto à seus aspectos legais, financeiros e operacionais, entre outros. Sendo uma das principais e mais importantes soluções de suporte em operações de M&A, uma due diligence completa e que ultrapasse os tipos tradicionais, pode prevenir, por exemplo, a precificação incorreta do ativo negociado. Além disso, auxilia na identificação dos riscos associados às diferentes áreas de negócio e fornece informações relevantes para garantir a previsibilidade durante as fases de negociação de preços e de planejamento da integração de pessoas, tecnologias, operações e processos.

Atualmente, outras modalidades de due diligence têm surgido, somando-se às tradicionais contábeis-financeiras, tais como as de Sistemas de Informação, Cyber e de ESG, que permite identificar oportunidades para promover práticas de responsabilidade ambiental, social e de governança.

Para 38% das empresas participantes, obstáculos durante a fase de due diligence, como descobertas de questões financeiras não divulgadas, litígios pendentes, questões regulatórias ou de propriedade intelectual foram algumas das divergências que levaram à interrupção de suas operações de M&A nos últimos cinco anos. Ainda, para 25%, divergências entre as partes envolvidas, com relação ao preço justo dos ativos negociados, também foram identificadas como críticas em ações de fusão ou aquisição no período. Um processo rigoroso de due diligence teria evitado muitas destas situações.

Finalmente, o estudo realizado apontou que, para os próximos cinco anos, dentre as 46% das organizações que planejam fazer M&A, 24% têm a intenção de adquirir ou investir em startups, 23% pretendem buscar fusão de seu negócio com outra empresa, 21% têm planos adquirir outra empresa e 14% planejam realizar joint venture. Além disso, 8% pretendem adquirir ativos ou marcas. Acreditamos que estas operações serão cada vez mais positivas à medida que o mercado vai amadurecendo e compreendendo melhor os benefícios de um M&A, ao mesmo tempo que entende a importância de conduzi-lo de forma estruturada e bem planejada, desde sua etapa estratégica até a integração da empresa adquirida. Por Venus Kennedy e Matt Birtwistle: Venus Kennedy é líder da prática de Estratégia, Analytics e M&A da Deloitte, e Matt Birtwistle é sócio-líder da prática de M&A em consultoria da Deloitte… leia mais em Época Negócios 03/03/2024