Uma das principais marcas de moda on-line no país — na lista de ativos mais interessantes de empresas do setor até anos atrás —, a Amaro enfrenta dificuldades financeiras e sondou interessados no negócio, para a venda de participação e capitalização na companhia, apurou o Valor.

Procurada, a companhia confirmou ao Valor que está em processo de renegociação de seus passivos e avança “em negociações com potenciais investidores para reforçar sua base de capital”.

Segundo duas fontes a par do tema, o Mercado Livre foi procurado por representantes da Amaro para um eventual acordo, que precisa passar por um aporte de recursos, mas as chances, neste caso, são remotas. O Mercado Livre se aproximou dos sócios da Amaro recentemente, por conta do fechamento de uma parceria no ano passado, na venda de produtos da marca em sua plataforma.

Segundo informações que circulam no mercado, Soma e Arezzo foram sondados inicialmente, mas não há negociação em andamento. Procuradas, as duas empresas ainda não se manifestaram.

O Mercado Livre não comenta o assunto.

Amaro renegocia dívidas e busca compradores

A intenção da Amaro é reequilibrar a sua estrutura de capital após crescimento da sua alavancagem com o aumento na pressão de dívidas de curto prazo, afetadas pela alta na taxa Selic .

Segundo uma fonte, a Amaro já tem buscado soluções para o negócio há algum tempo, e a deterioração do mercado acelerou o processo.

A questão é que, a “seca” do mercado de crédito, especialmente para empresas deste setor, vem tornando mais cara e escassas linhas para renegociação de passivos, assim como novas linhas de financiamento. E isso se acentuou com a crise na Americanas.

“Há o efeito do escândalo contábil na Americanas, que reduziu apetite para negócios com maior risco, como os negócios digitais, e há também a Selic alta, que encarece a linha, mesmo que as empresas consigam algo”, diz uma fonte a par do assunto.

Grande parte do faturamento da Amaro é digital — a empresa nasceu nesse segmento, em 2012, fundada pelos sócios Dominique Oliver, Lodovico Brioschi e Roberto Thiele.

Ainda há outro fator, de proteção das empresas a seu caixa neste momento, e de encarecimento das dívidas financeiras após a alta na Selic, e isso afeta potenciais compradores da companhia que poderiam ter caixa para uma negociação.

Há três anos, a Amaro era uma das “queridinhas” do setor de moda digital no país, e esteve na lista de negócios com alto potencial de crescimento em “roadshows” de empresas abertas de moda.

Naquela época, a forte expansão da empresa, num negócio voltado para classe média, com poucos competidores mais bem estruturados no mercado on-line, atraiu interesse para a marca de assessores em M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições) entre 2020 e 2021. A empresa aumentou investimentos e entrou em novos segmentos num período de forte onda de consumo digital, mas desde o ano passado esse mercado não só desacelerou como encolheu no país, e de forma abrupta.

Justiça e fornecedores

Fornecedores e parceiros da empresa já vêm executando débitos em aberto na Justiça e, nos processos, advogados da companhia mencionam o cenário econômico. Esse movimento levou a empresa a buscar assessores para a reestruturação de dívida, e a contratação da empresa de consultoria e assessoria Alvarez & Marsal para avançar nesse trabalho nos próximos meses.

Em três semanas, entre fim de janeiro e início de fevereiro, entraram na Justiça paulista (TJSP) dois pedidos de falência por parte de fornecedores, sendo um deles com valor pago e ação arquivadas, segundo informações atualizadas ontem no site do TJSP.

No fim de 2022, o Shopping Vila Olímpia, do grupo Multiplan, entrou com pedido de despejo por falta de pagamento de aluguel de uma loja da Amaro (valor da ação , cerca de R$ 332 mil). Foi fechado acordo entre as parte no fim do ano passado.

Ainda há quatro execuções de títulos extrajudiciais no TJSP neste ano.

Na nota enviada ao Valor, a empresa confirma — além do processo de renegociação de seus passivos e de negociações com investidores —, que, para apoia-la nesse processo, contratou a Alvarez & Marsal. E reforça que mantem seu posicionamento como ecossistema de “lifestyle” no mercado premium, focado em moda, beleza e casa.

No varejo, casos de empresas em dificuldades vem crescendo nos últimos meses, assim como as as renegociações de dívidas extrajudiciais.

Nas últimas semanas, a Tok&Stok abriu conversas com credores, assim como a Marisa contratou assessores para renegociar dívidas de pouco mais de R$ 200 milhões… leia mais em Inteligência Financeira 01/03/2023