A francesa AXA, grupo segurador cuja gestora de investimentos soma quase 900 bilhões em euros, acaba de fechar a compra de uma participação minoritária na startup brasileira Mombak. Além de se tornar acionista, a AXA está entregando US$ 49 milhões para a Mombak gerir em projetos de descarbonização na floresta amazônica.

“Com quase um trilhão de euros sob gestão, a AXA busca diversificação em ativos financeiros, como ações e títulos de dívida, e ativos reais, como imóveis e infraestrutura. A nova tese deles é que ativos naturais serão cada vez mais monetizados”, diz Peter Fernandez, fundador da Mombak, ao Pipeline. “Nessa linha, um dos mercados mais avançados hoje é o de carbono, mas futuramente veremos isso acontecer com biodiversidade, com água limpa.”

A AXA já começou a investir algumas centenas de milhões nessas teses mundo afora, em busca de retorno financeiro. O capital entregue à Mombak para gestão, em troca de um fee, será usado para comprar terras e fazer reflorestamento.

Mombak atrai gigante francesa AXA

Fernandez calcula que esse capital seja suficiente para comprar de cinco a 10 mil hectares de fazendas, o que a companhia pretende fazer em uma janela de nove meses. É uma alavanca e tanto no negócio tocado hoje pela Mombak, que soma três mil hectares e tem outras duas em diligência, com mais 50% de área.

“Três mil hectares é metade de Manhattan. No ponto central da fazenda, quando você olha no entorno, todo o horizonte é da propriedade”, diz o sócio-fundador sobre as dimensões do negócio.

A Mombak já tinha capital do private equity americano Bain Capital para aplicar nos projetos e também já tinha atraído acionistas. No cap table, a AXA vai compor uma sociedade que conta com fundos como Kaszek, Union Square, Conservation International Ventures e Byer Capital.

Um dos principais problemas desse mercado hoje em dia é confiança e nossa estratégia para endereçar isso é construir projetos de remoção de carbono com a maior integridade possível”, diz Fernandez. Americano, ele mora há pouco mais de uma década no Brasil. Foi CEO da 99, app de transporte que se transformou no primeiro unicórnio brasileiro, e head do YouTube na América Latina. Num período sabático, que incluiu uma temporada num monastério vietnamita, decidiu que ia “gastar tempo e energia com algo que considerasse importante para o mundo.”

“Mudança climática é um dos principais problemas da humanidade, que causam real sofrimento humano. São casas e famílias alagadas, é a Califórnia pegando fogo todo ano, são ilhas desaparecendo. Já temos refugiados do clima, e isso só vai piorar”, diz.

Ele resolveu mergulhar no assunto e chegou ao Project Drawdown, estudo que quantifica soluções para mudança climática em ordem de prioridade. “Na lista de 250 pontos, busquei em qual eu conseguiria atuar de alguma forma, e era o quinto item: reflorestamento tropical”, conta. “Tirar o CO2 que já está na atmosfera é tão importante quanto reduzir as novas emissões, mas é onde há menor progresso. A maior oportunidade para remover carbono da atmosfera é reflorestamento e o principal lugar para fazer isso é o Brasil.”

A Mombak nasceu com a proposta de ser a maior inciativa de remoção de carbono do mundo, a partir do reflorestamento na região amazônica. Até então, Fernandez tinha colocado os pés na Amazônia uma única vez, como turista, e fundou a Mombak ao lado de Gabriel Silva, ex-CFO do Nubank. O time inclui cientistas atuantes em restauro ecológico, acadêmicos que estudam o assunto há mais de duas décadas e executivos oriundos de indústrias florestais.

A Mombak compra fazendas, apresentadas por corretores, e também faz parceria com donos de terras, que tem áreas extras em plantação de eucalipto ou cana de açúcar, por exemplo, e a startup implementa o projeto de captura e venda do crédito de carbono, por um percentual da receita. “É um modelo que demanda menos capital e tem TIR maior, acima de 20% de rentabilidade líquida“, diz Fernandez.

A climatech realoca os bois da fazenda comprada em outra área, otimizando terra com pasto rotativo. A média na região é de 0,8 boi por hectare, o que nas novas fazendas passam a 4 a 5 bois por hectare.

Os sócios querem fazer da Mombak a “Apple de créditos de remoção de carbono”, usando a referência do mercado de tecnologia. “Steve Jobs usava o termo insanely great, e é isso que estamos tentando criar aqui: créditos de carbono insanamente bons, num mercado que tem um problema sério de qualidade”,… leia mais em Pipeline 18/07/2023