Muitas pessoas perguntam se existe um momento correto para se fazer um M&A (fusão e aquisição em português). A pergunta é falsamente complexa e já comentada em outros textos escritos por mim. Entendemos a sua resposta sob um prisma que compreende três dimensões: momento do Dono, da Empresa e do Setor. O dilema entre vender integralmente o negócio para um estratégico ou pegar dinheiro para crescer com um fundo de investimentos e vender mais tarde está em todos os corações e mentes do empresariado brasileiro. Esta encruzilhada é um clássico da literatura do empreendedorismo e não tem resposta única.

Existem, contudo, alguns pontos que endereçados facilitam a discussão.

  • Quantos anos o empreendedor(a) tem?
  • Quanto ele(a) tem de patrimônio e de liquidez?
  • Há quantos anos ele está tocando a sua empresa, sofrendo e amadurecendo, enfrentando todos os picos e vales do negócio e flutuações de humores da economia e da política, além das eventuais úlceras que ele já adquiriu?
  • O ciclo de sucesso dentro da economia real para empresários varia de sete a dez anos. Portanto, uma liquidez para vendas parciais pode trazer paz de espírito e saúde para o empreendedor, especialmente para quem já tem mais de 40 anos.

Um erro clássico do empresário é não saber o quanto de necessidade de capital e de investimentos o seu negócio vai consumir nos próximos três a cinco anos. Muitos negócios não têm colateral suficiente para grandes alavancagens e uma hora isso vai ser gargalo. A necessidade de dinheiro é sempre diversa: capital de giro, investimento em gente, expansão comercial, internacionalização e outros. O que não muda é que o dinheiro para o pequeno e médio empresário é sempre muito caro. Seja via banco de varejo, plataformas de fintech ou bancos governamentais, com raras exceções, o empresário vai captar com spread bancário de 6% acima do CDI. Somado ao prazo de pagamento que na maior parte das vezes não exceda 24 meses, temos uma combinação de geração de caixa apertada para servir a dívida e isto, por consequência, estrangula o crescimento. É aí que o M&A pode ajudar em várias dimensões, além do dinheiro por si só, em liquidez para sócio, em cogestão, em relacionamento comercial, em fôlego geral para o crescimento.

O que os casamentos e as fusões e aquisições têm em comum?Na busca do fundo ou do investidor estratégico, o empreendedor deve ter em mente a definição do parceiro ideal e a partir dali identificar no mercado aquele que mais se aproxima do seu interesse.

Definir a persona ideal implica em responder às várias perguntas do que ele deseja e do que está disposto a abrir mão:

  • Venda de controle ou novo sócio minoritário?
  • Investidor passivo ou ativo?
  • Valuation alto ou Liquidez na rodada?
  • Qual nível de Governança que estamos abertos a aceitar?
  • A combinação destes perfis normalmente é mutuamente excludente. Ou seja, não conseguiremos pegar todas as melhores características que desejamos e encontrar todas elas em um único parceiro.

No mundo real, seja na vida pessoal ou na vida profissional, sempre teremos o desafio de buscar o melhor dentro do possível. Cada tipo de transação terá um pacote de características que serão melhores ou piores dependendo do contexto do dono, do setor e da sua empresa.

Caberá ao empreendedor julgar e priorizar o que quer para si e para o seu negócio, respeitando sua identidade e cultura. Como todo casamento, fusão e aquisição não vai ser diferente. Afinal, encontrar um namorado ou namorada como DiCaprio (ou uma Jolie) que além de tudo é bonzinho e bem-humorado e ainda faz compras semanais de mercado, não parece ser tarefa fácil. Como dizia a bíblia sagrada no versículo 3 capítulo V do empresariado: “Do casamento, não escaparás”. Autor Marco França é engenheiro pela PUC, Especialista pela Coppead/ UFRJ e Sócio da Auddas.

Com informações da Auddas 30/01/2024