A Spectra Investimentos, gestora focada no mercado secundário, acaba de desembolsar R$ 156 milhões para comprar de um fundo ligado ao governo de Minas Gerais as participações em duas empresas do setor industrial: a Xmobots, fabricante de drones que tem também a Embraer como acionista, e a Unicoba, companhia de baterias de lítio que chegou a tentar um IPO em 2021.

As fatias adquiridas pertenciam ao FIP Aerotec, que é gerido pela Ouro Preto Investimentos e tem como principal cotista a estatal mineira Codemge, agência de desenvolvimento do estado. Do total aportado pela Spectra, a maior parte — R$ 95 milhões — vai para a Xmobots, na qual a gestora terá uma posição de 20% (valuation de R$ 475 milhões), enquanto os outros R$ 61 milhões compraram 16% da Unicoba (valuation de R$ 381 milhões).

“São ativos que já cresceram muito, mas que acreditamos que ainda há um período de maturação até que sejam vendidas por meio de um IPO ou por outras formas de desinvestimento”, afirma Rafael Bassani, sócio da Spectra, ao Pipeline.

Spectra compra participações em Unicoba e Xmobots

A Xmobots, por exemplo, faturava R$ 1 milhão há 10 anos, quando o Aerotec virou acionista, e hoje tem uma receita anual de R$ 250 milhões. Considerada a maior fabricante de drones da América Latina, a empresa é especializada em atender aos segmentos de agronegócio (para monitoramento de plantio e pulverização de colheita, por exemplo) e de segurança (para exércitos e polícias).

Já em relação ao fornecimento para forças públicas de segurança, Bassani reconhece que se trata de um mercado que um dia vai bater em um teto em termos de demanda, mas que ainda está no começo da curva de adoção. “Entre municípios, por exemplo, há cerca de 500 no Brasil com porte suficiente para ter um monitoramento policial via drone, mas só quatro ou cinco usam. Há um espaço gigantesco nesse mercado antes de virar carne de osso.”

A Unicoba, por sua vez, fornece baterias para fabricantes de celulares, mas são outros dois negócios que a Spectra vê como principais atrativos para o investimento: as chamadas baterias estacionárias (que são mais complexas e se destinam a equipamentos como antenas de telefonia celular e linhas de transmissão de energia) e as baterias de lítio voltadas para carros e motos elétricos.

O negócio de baterias estacionárias é algo mais concreto, porque há uma demanda em alta com a troca do 4G para o 5G, o que deve quintuplicar a construção de antenas nos próximos anos”, ele diz. “Já as baterias para mobilidade são mais uma aposta: é algo que provavelmente vai acontecer, temos várias evidências, mas ainda não sabemos se vamos tombar a frota para o elétrico ou não.”

Segundo Bassani, as duas companhias têm ambição de abrir capital. No caso da Unicoba, seria retomar o plano que foi suspenso em 2021. Para a Spectra, a empresa já tem porte para isso, com R$ 150 milhões de Ebitda e $ 850 milhões de receita por ano, e organização do ponto de vista financeiro e governança. “Se existir uma janela e for atrativo, nada nos impede de seguir esse percurso”, ele diz.

Já a Xmobots, afirma Bassani, precisa de mais tempo de maturação para um IPO. “Em quatro ou cinco anos talvez seja o período para isso”, diz. “Mas a empresa tem um acionista capitalizado e listado, que é a Embraer, que já conhece esse tipo de estratégia e há uma alinhamento com os interesses de todos.” A Embraer aproveitou a entrada da Spectra para fazer um cheque adicional.

Os aportes da gestora nas duas empresas foram feitos por meio do fundo Spectra VI, que foi montado no ano passado e ainda está levantando recursos. O veículo já tem R$ 1,3 bilhão e quer encerrar a captação no segundo trimestre com um total de R$ 2 bilhões. Cerca de um terço deve ser investido em outros fundos, um terço em participações diretas e um terço para dar saída a outros investidores, como no caso da Aerotec. As transações foram assessoradas pela butique de M&As MMK Partners… leia mais em Pipeline 29/01/2024