O assunto do dia, claro, é a pretensão de valuation do Nubank, de US$ 75 bilhões a US$ 100 bilhões, para sua estreia na Nasdaq, que deve ocorrer ainda dentro de 2021. Na prática, se alcançada em seu teto, a operação colocaria o banco digital como a maior companhia brasileira de capital aberto, em termos de valor de mercado. Seria maior que a Vale, a Petrobras e qualquer outra gigante nacional que o leitor possa lembrar.

O que isso significa? A primeira resposta que vem em mente dos papas do valuation com os quais o EXAME IN conversou é que existe um plano e uma estratégia de negócio ainda desconhecida do público. Não está claro para ninguém como esse valor pode ser possível com o que se conhece do Nubank, seus números e seus planos até o momento.

A âncora para a buscar essa potencial avaliação seria, principalmente, a base de acionistas ilustrada do Nubank. A nata da nata dos investidores globais, do venture capital ao value invest tradicional está lá: Sequoia Capital, Tiger Capital, Tencent e mais recentemente Berkshire Hathaway, o oráculo internacional Warren Buffet, entre muitos. Dos brasileiros, o oráculo nacional Luis Sthulberger, da Verde Asset Management, e o Absoluto.

O racional por trás desses nomes é que seria contraintuitivo acreditar que todos eles estão errados. Não esse time. Não depois de diligências pré-investimentos. Mesmo assim, explicar agora os números é ainda mais desafiador.

O segundo significado do valuation pretendido pelo Nubank, conforme informações do Pipeline apurada com fontes ligadas à operação de abertura de capital, é que se o Nubank tiver sucesso em seus planos, vai “reprecificar” as fintechs e bancos digitais.

Iconografico Nubank

Por isso, os concorrentes estão vivendo um misto de curiosidade e excitação. “Se o Nubank conseguir no mercado o valor que pretende, significa que a avaliação de Inter, BTG Digital, Banco Pan, no mínimo, está equivocada, ou seja, eles deveriam valer muito mais”, comentou um gestor de recursos. Todos aguardam para ver o prospecto da operação e ouvir o road show da oferta para entender a trilha de valor que o Nubank pretende criar.

O Nubank apresentou lucro líquido de R$ 6,8 milhões no primeiro trimestre deste ano. Não, não é o primeiro. Conforme balancetes apresentados ao Banco Central, houve um resultado líquido positivo de quase R$ 25 milhões no segundo trimestre de 2020, mas com um acumulado anual de prejuízo superior a R$ 230 milhões. O resultado operacional líquido ainda foi negativo, em R$ 3,7 milhões nos três primeiros meses do ano.

Apesar de ainda ter uma certa sensação de mistério com os planos do banco, o que o mercado se impressiona é com o crescimento de receita do banco, apesar da base de clientes ativos ser muito inferior à base total. A instituição possuía cerca 40 milhões de clientes cadastrados em maio. O Banco Central do Brasil, porém, considera a base de usuários pouco superior a 10 milhões, que são aqueles efetivamente ativos.

A receita líquida de 2020 foi de R$ 4,8 bilhões e a do primeiro trimestre deste ano, de R$ 1,8 bilhão. Anualizado, os três primeiros meses de 2021 somariam R$ 7,2 bilhões. O entendimento é que, com uma receita desse tamanho, o Nubank não dá lucro porque não quer — porque o foco ainda é crescimento, portanto gastar para ter mais cliente, mais plataforma, mais produtos e serviços. Mas tem, sim, uma base robusta para trabalhar.

Dizer que ela vale US$ 100 bilhões, ou seja cerca de 60 vezes a receita estimada para 2021 é que vão ser elas. Antes mesmo de estrear na Nasdaq, o banco brasileiro é caso de estudo em Stanford, para quem estuda o mercado de fintechs. A proxy para ele? Não, não são bancos. É a trajetória do Mercado Livre. Por que? Gestão competente e orientada ao cliente de uma forma que indústria nunca teve antes. O “Meli”, como é conhecido, vale mais de US$ 90 bilhões e tem dentro dele o próprio projeto de Nubank, com o Mercado Pago.

Que Nubank é grande e será forte, dúvida não há. Mas, dizer que após Buffet avaliar o negócio em US$ 30 bilhões em maio, o valor se multiplica por mais de 3 vezes em poucos meses pode não ser tão simples… Leia mais em indicesbovespa. 26/08/2021