Após uma semana, líderes globais, inclusive do Brasil, se despediram de Davos, na Suíça. E entre reuniões sobre economia e conflitos geopolíticos, o 54º Fórum Econômico Mundial também se debruçou sobre a crise climática e os riscos de uma catástrofe global em até 10 anos. Isso porque o Relatório Anual de Riscos Globais 2024 foi apresentado durante o evento e o meio ambiente é um dos três eixos de riscos abordados no documento. Os pontos preocupantes, alguns já bem conhecidos, trazem implicações que precisam ser observadas pelos investidores.

Elaborado pelo Banco Mundial, o documento chegou a 19º edição e cita que as questões climáticas, tecnológicas (como uso da inteligência artificial), geopolíticas (como os conflitos Israel-Gaza e Rússia-Ucrânia) e as questões sociais (como imigração forçada) estão mais voláteis do que nunca e complicando as operações empresariais, a tomada de decisões e as estratégias.

“Um terço dos nossos entrevistados sentiu que havia um risco elevado de catástrofe global nos próximos 2 anos, dobrando para dois terços nos próximos 10 anos. Eles destacam a desinformação, os eventos climáticos extremos e a polarização social como os principais riscos para os próximos dois anos, enquanto as preocupações ambientais têm precedência na próxima década”, diz Saadia Zahidi, diretora executiva do Fórum Econômico Mundial.

Cinco dos 10 riscos globais na próxima década são ambientais
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Cinco dos 10 principais riscos nos próximos 10 anos são ambientais:

  • Eventos climáticos extremos;
  • Mudança crítica nos sistemas terrestres;
  • Perda de biodiversidade;
  • Colapso do ecossistema;
  • Escassez de recursos naturais e poluição.

No curto prazo, esses riscos poderão agravar-se e atingir um ponto de inflexão, o que poderá resultar em perturbações significativas nas cadeias de abastecimento, no desenvolvimento humano e na sociedade civil, diz a publicação.

“Eventos climáticos extremos continuam como protagonista este ano, como aconteceu nos últimos. Os quatro primeiros riscos para os próximos 10 anos são peças do mesmo quebra-cabeça já conhecido e reportado pelo Fórum Econômico Mundial há muito tempo”, comenta Ricardo Assumpção, sócio-líder de sustentabilidade na consultoria EY.

Mas, a conta do planeta vem. E para todos.

“Os fenômenos meteorológicos extremos, a escassez de recursos naturais e a poluição representam um risco para a segurança alimentar e a inflação alimentar nos próximos anos. O papel que o Brasil desempenha como exportador de alimentos deverá continuar a aumentar, mas as alterações climáticas tornarão a produção mais vulnerável e volátil”, observam João Noronha, cogestor de Renda Variável da gestora Schroders Brasil, e Pablo Riveroll, diretor de Renda Variável da Schroders para Brasil e América Latina.

Os setores mais afetados

Do ponto de vista amplo, Noronha e Riveroll observam que muitos dos riscos sinalizados pelo Banco Mundial são consequência das alterações climáticas e o Brasil acaba sendo mais pressionado nesse contexto.

“Há muitas partes nacionais e internacionais interessadas que o Brasil preserve e promova a biodiversidade. Isso tem implicações para o valor do capital natural do país e acrescenta muito escrutínio a qualquer empresa que lide com florestas ou terras agrícolas”, explicam.

Ao se deter sobre os maiores setores listados na B3, a bolsa brasileira, os especialistas da gestora britânica citam commodities e petróleo como os que podem ser afetados pelos eventos climáticos extremos; os conflitos armados; e as mudanças críticas nos sistemas terrestres.

“Os riscos de curto e longo prazo apresentados pelo relatório compreendem vários fatores que abordamos ao avaliar uma oportunidade de investimento, porque, para nós, está claro que as empresas que tratam bem o ambiente serão recompensadas e os infratores serão cada vez mais penalizados, quer pelas autoridades, quer por investidores que não estejam dispostos a financiá-las”, dizem os profissionais da Schroders.

Já os setores nacionais – como o financeiro e de bens de consumo – estão expostos aos outros riscos elencados pelo Banco Mundial, como insegurança cibernética; inflação; e recessão econômica…. leia mais em Valor Investe 22/01/2024